Será que as pessoas que adoram dar opinião na vida dos outros não sabem que toda a gente tem um espelho em casa?
Mind you own business, damn!
03 dezembro 2008
01 dezembro 2008
Nó na garganta
Sempre gostei de histórias – mesmo que ficção – que me atam um nó na garganta.
Benicio del Toro. Nunca me tinha apercebido antes como gosto deste actor. “Coisas que perdemos pelo caminho” fez-me encontrar esse apreço. Benicio (Jerry) é um viciado em heroína. Partilha a história com Halle Berry (Audrey), que está a passar pela pesada dor do luto. O marido, assassinado enquanto tentava salvar uma mulher que estava a ser brutalmente espancada pelo companheiro, cruza estas duas vi(d)as. No meio, os dois filhos que, à sua maneira, buscam também uma forma de sobreviver à morte.
A história equaciona-se da seguinte forma: negativo vezes negativo dá positivo. E, por isso, é um relato da caminhada para o abismo de duas pessoas – uma através do luto, outra através do vício – e que, exactamente por estarem a fazer esse percurso, se salvam. Os planos-detalhe (a forma de encaixe dos corpos para que Audrey consiga dormir, a carícia no lóbulo da orelha, os olhos raiados de dor, a aliança deslizando do dedo enquanto toma banho que comprova a morte) são as pontas que apertam este nó.
Questiona se realmente vale a pena chorar o que perdemos pelo caminho – não todas as coisas, mas se calhar aquelas que achamos importantes e, no fundo, são indiferentes, porque são, afinal, apenas coisas. E de um filme como este não poderia deixar de sair uma lição para pôr o telespectador a reflectir. “Accept the good” para Audrey e “One day at the time” para Jerry. Se bem que para ambos, e para todos nós, as duas máximas são válidas.
Accept the good… One day at the time!
Numa destas noites de insónia (que até têm sido relativamente raras) o computador (correspondeu à minha necessidade de ver um filme, já que ultimamente tem andado bastante selectivo e permite-me ver apenas o que lhe apetece, sem que eu ainda me tenha apercebido quais são os seus critérios) lá me deu o gosto de assistir a “Coisas que perdemos pelo caminho”. Estreado em 2007, o filme é da experiente realizadora dinamarquesa Susanne Bier.
Benicio del Toro. Nunca me tinha apercebido antes como gosto deste actor. “Coisas que perdemos pelo caminho” fez-me encontrar esse apreço. Benicio (Jerry) é um viciado em heroína. Partilha a história com Halle Berry (Audrey), que está a passar pela pesada dor do luto. O marido, assassinado enquanto tentava salvar uma mulher que estava a ser brutalmente espancada pelo companheiro, cruza estas duas vi(d)as. No meio, os dois filhos que, à sua maneira, buscam também uma forma de sobreviver à morte.
A história equaciona-se da seguinte forma: negativo vezes negativo dá positivo. E, por isso, é um relato da caminhada para o abismo de duas pessoas – uma através do luto, outra através do vício – e que, exactamente por estarem a fazer esse percurso, se salvam. Os planos-detalhe (a forma de encaixe dos corpos para que Audrey consiga dormir, a carícia no lóbulo da orelha, os olhos raiados de dor, a aliança deslizando do dedo enquanto toma banho que comprova a morte) são as pontas que apertam este nó.
Questiona se realmente vale a pena chorar o que perdemos pelo caminho – não todas as coisas, mas se calhar aquelas que achamos importantes e, no fundo, são indiferentes, porque são, afinal, apenas coisas. E de um filme como este não poderia deixar de sair uma lição para pôr o telespectador a reflectir. “Accept the good” para Audrey e “One day at the time” para Jerry. Se bem que para ambos, e para todos nós, as duas máximas são válidas.
Accept the good… One day at the time!
Numa destas noites de insónia (que até têm sido relativamente raras) o computador (correspondeu à minha necessidade de ver um filme, já que ultimamente tem andado bastante selectivo e permite-me ver apenas o que lhe apetece, sem que eu ainda me tenha apercebido quais são os seus critérios) lá me deu o gosto de assistir a “Coisas que perdemos pelo caminho”. Estreado em 2007, o filme é da experiente realizadora dinamarquesa Susanne Bier.
Porque eu também estive lá
29.11.2008. Pela primeira vez na minha vida não estive no Pinheiro, essa festa magnífica cujas particularidades apenas os vimaranenses entendem. Não estive, mas estive. Estive presente em todos os meus amigos, companheiros de farra, vinho do Porto e baquetadas…
Conto-vos, aqui, como foi o meu Pinheiro. (Lembrem-se que em Cabo Verde vivemos uma hora antes):
20:10 Snowra
Já me tinha deixado uma mensagem para eu ouvir aquele som esmagador e que, atravessando o espaço e o tempo, me leva à minha terra. Fechei os olhos e ouvi o toque do nosso Pinheiro, como durante a tarde que antecede o cortejo o ouço na minha casa, enquanto ultimo os preparativos para a grande noite.
Conta-me que queria beber um vinho do Porto e exactamente nesse momento, a minha irmã que estava com a minha caixa (aquela que tem a mesma pele desde que a comprei, com o asterisco que lhe desenhei quando tinha os meus 16 anos) aparece e lhe oferece um cálice.
Diz-me também que este ano ninguém foi ao Bolama comprar a nossa garrafita de vinho do Porto. É quando surge a voz da Susana dizendo que “O Bolama faliu!” e insistia “O Bolama faliu!”, “Oh Cat, o Bolama faliu!”.
E assim a Sofia foi passando o telefone por todos os presentes através dos quais estive neste Pinheiro. Silvi, Vânia, Cachada, Paulinha, Vila Verde, Drecas e até a Rute. Falei com todos, brindaram por mim e gritaram o meu nome. Senti-me tão bem, tão deles, tão nosso.
01:03 PD Tartaruga
Não fala. Não era preciso. Estou com ela também. Só me faz ouvir o toque de novo e outra vez…
02:58 Vila Verde
Paulinha e Silvi disputam o telemóvel para comunicar comigo. O Vila tenta mediar a situação. As botas cheias de lama e a chuva que, afinal, não caiu (Eu sabia!) são o entusiasmo da conversa. A Paulinha quer dizer-me algo… disse-o e sentiu-se mais feliz. E eu por ela. Falam, discutem, brincam e eu sinto-me numa dimensão etérea. No escuro da minha casa, a cabeça ensonada, estou lá mas estou cá.
04:36 Algum 93…
A Paulinha estava apostada em terminar com o saldo do telemóvel de qualquer vivente que se lhe cruzava pelo caminho… Contou-me a sua paragem no Milenário, o que lhe fez lembrar, a sua expiação e reencontro com o que é realmente importante. Palavras que não se dizem, que às vezes pensamos que não precisam de serem verbalizadas, mas que, no tempo certo, são como a ausência da chuva na noite do Pinheiro.
04:45 Careca
Paulinha continua a sua saga de esgotar créditos alheios em chamadas internacionais. “Amanhã pago-lhes, este ano não trouxe nada comigo, só dinheiro e chaves, e sabes bem porquê.” Sei, Paulinha, claro que sei! J Enquanto a Paulinha monopolizava os aparelhos de comunicação móvel, imagino a Silvi a tentar também mandar de sua justiça, usurpando, quando podia, o telemóvel. Nisto tudo só tive tempo de mandar um beijo ao Careca e Laipaz.
Os saldos esgotam-se e eu estou feliz. Estive lá. Quando conversarem sobre o Pinheiro eu também terei histórias para contar.
Para a posteridade deste Pinheiro, fica a minha caixa sem o seu autocolante 2008 e as minhas inexistentes fotos da loja do Palmeiras, onde todos, de nariz e dedo indicador espetado, procuram a sua cara/estado/grupo.
28 novembro 2008
Descobri um novo mestre
Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais...
Faça uma lista dos sonhos que tinha
Quantos você desistiu de sonhar!
Quantos amores jurados pra sempre
Quantos você conseguiu preservar...
Onde você ainda se reconhece
na foto passada ou no espelho de agora?
Hoje é do jeito que achou que seria
Quantos amigos você jogou fora?
Quantos mistérios que você sondava
Quantos você conseguiu entender?
Quantos segredos que você guardava
hoje são bobos ninguém quer saber?
Quantas mentiras você condenava?
Quantas você teve que cometer?
Quantos defeitos sanados com o tempo
eram o melhor que havia em você?
Quantas canções que você não cantava
hoje assobia pra sobreviver?
Quantas pessoas que você amava
hoje acredita que amam você?
Lista, por Oswaldo Montenegro
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais...
Faça uma lista dos sonhos que tinha
Quantos você desistiu de sonhar!
Quantos amores jurados pra sempre
Quantos você conseguiu preservar...
Onde você ainda se reconhece
na foto passada ou no espelho de agora?
Hoje é do jeito que achou que seria
Quantos amigos você jogou fora?
Quantos mistérios que você sondava
Quantos você conseguiu entender?
Quantos segredos que você guardava
hoje são bobos ninguém quer saber?
Quantas mentiras você condenava?
Quantas você teve que cometer?
Quantos defeitos sanados com o tempo
eram o melhor que havia em você?
Quantas canções que você não cantava
hoje assobia pra sobreviver?
Quantas pessoas que você amava
hoje acredita que amam você?
Lista, por Oswaldo Montenegro
Passaporte & Opiniões
Quero aqui dizer que eu tenho todo o direito de emitir as minhas opiniões sobre Cabo Verde, porque é cá que vivo, pago os meus impostos e faço parte da força produtiva do país. E vice-versa. Reconheço todo o direito do cabo-verdiano (ou outra nacionalidade qualquer) de dizer de sua justiça sobre/no meu (também dele) país, para o qual, neste momento, contribui mais do que eu.
Por que é que é preciso um passaporte para emitir opiniões?
Raça & Competência
Escher (@ educ.fc.ul.pt)
Porquê o espanto se um asiático ganhar uma eleição na Etiópia? Ou um europeu no Equador? Ou um latino na França? Ou um africano nos EUA? Por que é que a raça é pré-requisito de competência?
Espantem-se! O presidente dos Estados Unidos é afro-americano. Ou africano. Ou americano. Não sei. Isso interessa, mesmo?
Alvíssaras! A América elegeu um timoneiro negro e incomoda-me tanto alarido. É que não me queria espantar, não queria ver este espanto global. Gostava que a primeira característica, que os jornais dão à estampa depois da sua eleição, fosse outra coisa que não a sua raça. Se McCain tivesse vencido, ler-se-ia pela imprensa mundial “Branco ganha eleições norte-americanas”? Não, pois não?
Só no dia em que a raça for indiferente à eleição de uma PESSOA para determinada função é que viveremos realmente em equidade. Quando ser preto, branco, azul ou amarelo deixar de ser um carimbo e um pró ou contra de qualquer avaliação.
É que isso irrita-me, chateou-me este tempo todo em que o mundo andou em histeria global. Como se a raça de uma PESSOA fosse determinante para a qualidade do desempenho do seu trabalho. É, faz-me espécie!
Espantem-se! O presidente dos Estados Unidos é afro-americano. Ou africano. Ou americano. Não sei. Isso interessa, mesmo?
Alvíssaras! A América elegeu um timoneiro negro e incomoda-me tanto alarido. É que não me queria espantar, não queria ver este espanto global. Gostava que a primeira característica, que os jornais dão à estampa depois da sua eleição, fosse outra coisa que não a sua raça. Se McCain tivesse vencido, ler-se-ia pela imprensa mundial “Branco ganha eleições norte-americanas”? Não, pois não?
Só no dia em que a raça for indiferente à eleição de uma PESSOA para determinada função é que viveremos realmente em equidade. Quando ser preto, branco, azul ou amarelo deixar de ser um carimbo e um pró ou contra de qualquer avaliação.
É que isso irrita-me, chateou-me este tempo todo em que o mundo andou em histeria global. Como se a raça de uma PESSOA fosse determinante para a qualidade do desempenho do seu trabalho. É, faz-me espécie!
Não seria boa ideia destruirmos esta Babel mental que está dentro de todos nós?
24 novembro 2008
A ti.
(Autor cujo nome não consegui saber @ Galeria de Artes Visuais Latino-América)
A ti.
Adoro a tua maturidade e o nosso olhar cúmplice
Adoro a tua diplomacia e como acreditas no teu sonho
Adoro a tua atitude decidida e confiante
Adoro dançar contigo
Adoro que gostes tanto de mim
Gosto de recordar a nossa história comum
Gosto da tua sede de saber
Gosto das tuas criancices e de como me fazes rir
Gosto da tua cortesia e cavalheirismo
Gosto do teu sorriso e do exemplo que és para mim
Admiro o teu optimismo e como me ensinaste a relativizar os problemas da vida
Admiro a tua inocência e a tua vontade de me protegeres dos males do mundo
Admiro a tua disponibilidade e como cuidas de mim quando estou triste
Admiro o teu auto-sacrifício e como fazes das dores dos outros, as tuas…
Adoro-te, gosto de ti e, sobretudo, admiro-te muito.
Sou abençoada por te ter.
Parabéns, papi.
Por tudo o que foste, és e serás sempre para mim. Adoro-te.
Hoje, se pudesse, iria fazer-te um bolo de chocolate. Nem que fosse daqueles que nem uma Black'n Deker pode perfurar. Mas era com amor!
Semba & Funáná
Só mesmo tu, Pedro, para fazeres com que uma noite qualquer de sábado à noite – em que faltam as energias até para levantar mais um copo de paródia – numa ocasião memorável. Fiz o meu melhor para alinhar contigo as passadas do semba e do funáná e agora dói-me todos os ossinhos e músculos do corpo. Porra! Só tu para me fazeres dançar descalça, depois dos meus chinelos que levei a uma festa chique rebentarem. Só tu para me encheres de areia na Prainha às 7 da matina e ainda me levares outra vez ao Tabanka para a ‘saideira’. Enfim, Pedro, só tu mesmo… Porra!
15-22/11
Foi uma semana fantástica para espíritos sedentos de cultura desta nossa urbe. Variedade e qualidade viram-se e agradecem-se.
Yo no me lo creo
O flamenco sempre mexeu comigo, impressiona-me a paixão que se canta. Impressiona-me as mulheres que atiram apupos “Olé” e “Vale”, enquanto a protagonista de histórias de amor e de morte canta chorando ou chora cantando, não se bem distinguir. Impressiona-me a ausência do ‘cajon’ (elemento, pensava eu, imprescindível num concerto de flamenco) ser substituído pela “precursão corporal” que incute o ritmo de cada música. Impressiona-me, sobretudo, fechar os olhos e sentir aquela voz a entrar em mim, na corrente do meu sangue, e correr todo o meu corpo num arrepio.
14.11 O flamenco mostrou-se à Cidade da Praia com uma actuação singular de Marina Herédia, acompanhada apenas por uma guitarra e duas vozes femininas. Pena só se terem soltado em danças e largado os microfones no final do espectáculo.
Marina Herédia ( @ El diário montanês)
Navegante na minha meninice
“Oh Maria Faia, oh Faia Maria” foi uma das canções de meninice que me trouxe aquela lagrimazinha e uma gargalhada abafada quando recordei da minha irmã, ainda pequenina, com uns 4 anos, quando os caracóis lhe caiam para os olhos, a dizer que as pessoas do coro do Hospital eram maus porque chamavam a Maria de feia… Lembrei-me dos passeios de domingo à tarde ao São Bentinho, ao Sameiro e à Penha com os meus avós e a minha tia Paulinha, em que cantávamos as mesmas canções que ouvi neste concerto. Foi bom, foi nostálgico, foi reconfortante.
15.11 Num fim-de-semana muito ibérico (sexta-feira, flamenco e sábado, música tradicional portuguesa), os Navegante protagonizaram um espectáculo a saber a terra, ao conforto da minha casa, às saudades de Guimarães. E algo inusitado aconteceu, algo que jamais vi na Cidade da Praia: um concerto que começou a horas. Marcado para as 21h30, espantos dos espantos, os primeiros acordes ouviram-se mesmo às 21 horas e trinta minutos…
José Barros (vocalista dos Navegante @ Attakom)
Manu Preto e Béti a solo
Era a vez da dança. Manu Preto, veterano nas andanças de Dom Quixote, e Béti, que se estreou no seu “Caminho” na Praia, deram-me mais uma vez aquela sensação de “esmagamento” que ambos, juntamente com a companhia Raiz di Polon, sempre me habituou. Habituar, não, que nunca me habituei, porque é uma sensação frequente que nunca acomodei.
17.11 O Centro Cultural Português organizou uma semana de espectáculos por ocasião do Fórum sobre Economia da Cultura. Dois conceitos geralmente pouco associados, mas que pode ser um dos motores de desenvolvimento deste país. Para o desenvolvimento económico e cultural. Mas nisto há riscos, muitos riscos, como em quase tudo quando o pensamento economicista mete o bedelho.
As Máscaras do amor
E agora Teatro. O cenário fez-me lembrar (mesmo que não tenha nada a ver, porque isto de associações mnemónicas pode trapacear qualquer um) o “Sonho de uma noite de Verão”, de Shakespeare, com os baloiços gigantes e a varandinha de hera. O texto, com umas tiradas brilhantes em crioulo, era envolvente. A dialéctica sobre o amor carnal de Arlequim e o amor espiritual do Pierrot, entre o concreto e o sonho, entre duas realidades que, por muito que se queira, nunca se intercepcionam. Ter aquele conforto de ver num texto escrito por outra pessoa (Menotti Del Picchiacomo, em 1920) reflectido o que pensamos, sem que alguma vez tenhamos encontrado as palavras para o descrever.
Encantou-me o amor de Pierrot, nos dias de hoje tão raro, diria mesmo, impossível… Porque é sempre vencido pelo amor de Arlequim, mais rápido, mais intenso e também, por isso, mais vazio.
19.11 A peça Máscaras estreia na Cidade da Praia, na primeira colaboração entre um grupo de teatro do Mindelo e a companhia Raiz di Polon, da Praia. Disseram-me isto como se me tivessem a contar que tinham descoberto a cura para a SIDA e não percebi porquê. “Dah, Catarina, é a primeira vez que um grupo de teatro do Mindelo e um grupo da Praia se juntam”. Caiu-me a ficha, mas não consegui deixar de achar esse facto uma trivialidade perto das outras características únicasda peça. Enfim, valeu a pena. E assim caiu o pano sobre a minha (e de muito mais gente) semana cultural na Praia.
Jay no Momento Certo
Tinha visto o cartaz dele pelas ruas e pensei: “Este gajo tem mesmo cara de boa pessoa”. Depois o Nató disse-me que ele era aquele era o rapaz que cantava a música que me tinha mostrado há uns dias, à qual respondi, “é mesmo bom onda!”. Vai daí, comecei a perceber que esse Jay andava a fazer muito sucesso pela nossa urbe e achei que era boa ideia fazer-lhe uma entrevista para os retratos d’A Semana. E pronto, na quinta-feira, 20, durante o ‘check sound’, fui entrevistá-lo.
Dei-me com o mesmo sorriso da foto, um rapaz simpático com ar de miúdo apesar dos seus 30 anos. Um miúdo sem a noção do sucesso que tem, que não sabe que se estivermos dez minutos numa rua do Plateau à espera de uma boleia, ouve-se pelo menos três vezes as músicas dele a sair dos carros que passam, muito menos imaginava o que o esperava nos três dias que se seguiram à entrevista. Foi recebido de uma forma como eu nunca vi por estas bandas. Teceram-lhe rasgados elogios, aos quais reagiu sempre com uma humildade confiante, e emocionou-se quando viu um dos seus anseios a concretizar-se. A emoção dele tocou a minha, porque não é todos os dias que uma pessoa vê sonhos a tornarem-se realidade. Quando o encontrei na praia, na tarde de sábado, falou-me dos seus outros sonhos, que, sinceramente, espero que se concretizem. Depois de conversar comigo, foi dar uns saltos com os miúdos da praia e ensinar-lhes uns movimentos de capoeira. Era um deles, também.
20.11 Assisti ao concerto do Jay, na quinta-feira, no Cockpit. Actuou também na Assomada, na sexta, e no Gimno-desportivo no sábado. Tive pena de não ter ido, porque, como ele disse, “se as pessoas já foram a um concerto meu, não quero que deixem de ir a outro só porque já me viram uma vez. Quero ser a garantia que quando alguém vai ao meu concerto, o pessoal vai passar 'sabi' e não que vai ver a repetição de alguma coisa”.
Jay (@ cartaz espalhado pelas ruas, não sei quem é o autor da foto)
Yo no me lo creo
O flamenco sempre mexeu comigo, impressiona-me a paixão que se canta. Impressiona-me as mulheres que atiram apupos “Olé” e “Vale”, enquanto a protagonista de histórias de amor e de morte canta chorando ou chora cantando, não se bem distinguir. Impressiona-me a ausência do ‘cajon’ (elemento, pensava eu, imprescindível num concerto de flamenco) ser substituído pela “precursão corporal” que incute o ritmo de cada música. Impressiona-me, sobretudo, fechar os olhos e sentir aquela voz a entrar em mim, na corrente do meu sangue, e correr todo o meu corpo num arrepio.
14.11 O flamenco mostrou-se à Cidade da Praia com uma actuação singular de Marina Herédia, acompanhada apenas por uma guitarra e duas vozes femininas. Pena só se terem soltado em danças e largado os microfones no final do espectáculo.
Marina Herédia ( @ El diário montanês)
Navegante na minha meninice
“Oh Maria Faia, oh Faia Maria” foi uma das canções de meninice que me trouxe aquela lagrimazinha e uma gargalhada abafada quando recordei da minha irmã, ainda pequenina, com uns 4 anos, quando os caracóis lhe caiam para os olhos, a dizer que as pessoas do coro do Hospital eram maus porque chamavam a Maria de feia… Lembrei-me dos passeios de domingo à tarde ao São Bentinho, ao Sameiro e à Penha com os meus avós e a minha tia Paulinha, em que cantávamos as mesmas canções que ouvi neste concerto. Foi bom, foi nostálgico, foi reconfortante.
15.11 Num fim-de-semana muito ibérico (sexta-feira, flamenco e sábado, música tradicional portuguesa), os Navegante protagonizaram um espectáculo a saber a terra, ao conforto da minha casa, às saudades de Guimarães. E algo inusitado aconteceu, algo que jamais vi na Cidade da Praia: um concerto que começou a horas. Marcado para as 21h30, espantos dos espantos, os primeiros acordes ouviram-se mesmo às 21 horas e trinta minutos…
José Barros (vocalista dos Navegante @ Attakom)
Manu Preto e Béti a solo
Era a vez da dança. Manu Preto, veterano nas andanças de Dom Quixote, e Béti, que se estreou no seu “Caminho” na Praia, deram-me mais uma vez aquela sensação de “esmagamento” que ambos, juntamente com a companhia Raiz di Polon, sempre me habituou. Habituar, não, que nunca me habituei, porque é uma sensação frequente que nunca acomodei.
17.11 O Centro Cultural Português organizou uma semana de espectáculos por ocasião do Fórum sobre Economia da Cultura. Dois conceitos geralmente pouco associados, mas que pode ser um dos motores de desenvolvimento deste país. Para o desenvolvimento económico e cultural. Mas nisto há riscos, muitos riscos, como em quase tudo quando o pensamento economicista mete o bedelho.
As Máscaras do amor
E agora Teatro. O cenário fez-me lembrar (mesmo que não tenha nada a ver, porque isto de associações mnemónicas pode trapacear qualquer um) o “Sonho de uma noite de Verão”, de Shakespeare, com os baloiços gigantes e a varandinha de hera. O texto, com umas tiradas brilhantes em crioulo, era envolvente. A dialéctica sobre o amor carnal de Arlequim e o amor espiritual do Pierrot, entre o concreto e o sonho, entre duas realidades que, por muito que se queira, nunca se intercepcionam. Ter aquele conforto de ver num texto escrito por outra pessoa (Menotti Del Picchiacomo, em 1920) reflectido o que pensamos, sem que alguma vez tenhamos encontrado as palavras para o descrever.
Encantou-me o amor de Pierrot, nos dias de hoje tão raro, diria mesmo, impossível… Porque é sempre vencido pelo amor de Arlequim, mais rápido, mais intenso e também, por isso, mais vazio.
19.11 A peça Máscaras estreia na Cidade da Praia, na primeira colaboração entre um grupo de teatro do Mindelo e a companhia Raiz di Polon, da Praia. Disseram-me isto como se me tivessem a contar que tinham descoberto a cura para a SIDA e não percebi porquê. “Dah, Catarina, é a primeira vez que um grupo de teatro do Mindelo e um grupo da Praia se juntam”. Caiu-me a ficha, mas não consegui deixar de achar esse facto uma trivialidade perto das outras características únicasda peça. Enfim, valeu a pena. E assim caiu o pano sobre a minha (e de muito mais gente) semana cultural na Praia.
Jay no Momento Certo
Tinha visto o cartaz dele pelas ruas e pensei: “Este gajo tem mesmo cara de boa pessoa”. Depois o Nató disse-me que ele era aquele era o rapaz que cantava a música que me tinha mostrado há uns dias, à qual respondi, “é mesmo bom onda!”. Vai daí, comecei a perceber que esse Jay andava a fazer muito sucesso pela nossa urbe e achei que era boa ideia fazer-lhe uma entrevista para os retratos d’A Semana. E pronto, na quinta-feira, 20, durante o ‘check sound’, fui entrevistá-lo.
Dei-me com o mesmo sorriso da foto, um rapaz simpático com ar de miúdo apesar dos seus 30 anos. Um miúdo sem a noção do sucesso que tem, que não sabe que se estivermos dez minutos numa rua do Plateau à espera de uma boleia, ouve-se pelo menos três vezes as músicas dele a sair dos carros que passam, muito menos imaginava o que o esperava nos três dias que se seguiram à entrevista. Foi recebido de uma forma como eu nunca vi por estas bandas. Teceram-lhe rasgados elogios, aos quais reagiu sempre com uma humildade confiante, e emocionou-se quando viu um dos seus anseios a concretizar-se. A emoção dele tocou a minha, porque não é todos os dias que uma pessoa vê sonhos a tornarem-se realidade. Quando o encontrei na praia, na tarde de sábado, falou-me dos seus outros sonhos, que, sinceramente, espero que se concretizem. Depois de conversar comigo, foi dar uns saltos com os miúdos da praia e ensinar-lhes uns movimentos de capoeira. Era um deles, também.
20.11 Assisti ao concerto do Jay, na quinta-feira, no Cockpit. Actuou também na Assomada, na sexta, e no Gimno-desportivo no sábado. Tive pena de não ter ido, porque, como ele disse, “se as pessoas já foram a um concerto meu, não quero que deixem de ir a outro só porque já me viram uma vez. Quero ser a garantia que quando alguém vai ao meu concerto, o pessoal vai passar 'sabi' e não que vai ver a repetição de alguma coisa”.
Jay (@ cartaz espalhado pelas ruas, não sei quem é o autor da foto)
Nota: Houve outros espectáculos, nomeadamente o de quinta-feira, 20, que juntou Ricardo Deus, Kisó, Raul, Ângelo e Djinho no CCP, que, com muita pena minha, perdi devido às minhas obrigações “senzalares”. Sábado, o novo Banco de Investimentos, que anda a fazer furor com as suas iniciativas megalómanas (mas que não deixam de ser bem-vindas, que o digam as discotecas e hotéis da capital…) organizou um concerto de beneficência – com Yola Semedo, Tito Paris, Paulo Flores, Sandra Horta – ao qual também faltei por me faltar energias.
04 novembro 2008
15 outubro 2008
Tarrafa's fall II
E a nossa saga teve uma sequela...
Nos praia Presidenti
O nosso complexo habitacional
Ponta de Atum
Paulinha, com ar de veraneante a beber água de coco. A presença que fez do meu Tarrafal um lugar ainda mais especial.
A histórica inscrição TARRAFAL, com Paulinha e Helder
Na ida para o Tarrafal, a Iara demonstrou toda a sua perícia fotográfica tentado cegar o Helker e matar-nos a todos.
Viagem muito feelingada. Iara, Helker eu e ao fundo o Mário (nao se vê mas ele está lá!)
Paulinha e Sori por entre o nevoeiro da Serra Malagueta
Eu e a Iara a sofrer com o frio da Serra Malagueta
Red neck Sori
Paulinha e Iara com praia Presidenti ao fundo
O peixinho para o nosso almoço
Eu e Paulinha, versão Cabo Verde
Almoço no Sol & Luna, o lugar dos esparguetes fartos e do peixe fresquinho
Credo.. Helker, Carlinhos, Ruca, senhor das rastas pelos tornozelos e Sori
Despedindo de mais um fim-de-semana na Tarrafal (apesar de estarmos na Serra Malagueta)
Nos praia Presidenti
O nosso complexo habitacional
Ponta de Atum
Paulinha, com ar de veraneante a beber água de coco. A presença que fez do meu Tarrafal um lugar ainda mais especial.
A histórica inscrição TARRAFAL, com Paulinha e Helder
Na ida para o Tarrafal, a Iara demonstrou toda a sua perícia fotográfica tentado cegar o Helker e matar-nos a todos.
Viagem muito feelingada. Iara, Helker eu e ao fundo o Mário (nao se vê mas ele está lá!)
Paulinha e Sori por entre o nevoeiro da Serra Malagueta
Eu e a Iara a sofrer com o frio da Serra Malagueta
Red neck Sori
Paulinha e Iara com praia Presidenti ao fundo
O peixinho para o nosso almoço
Eu e Paulinha, versão Cabo Verde
Almoço no Sol & Luna, o lugar dos esparguetes fartos e do peixe fresquinho
Credo.. Helker, Carlinhos, Ruca, senhor das rastas pelos tornozelos e Sori
Despedindo de mais um fim-de-semana na Tarrafal (apesar de estarmos na Serra Malagueta)
Tarrafa's fall I
Fim-de-semana e o pessoal reúne-se para se alhear do mundo e passar sabi no Tarrafal, also known as Tarrafa's Fall. Ficam aqui momentos para a vida!
O grupo todo a comer o belo do frango corado, bombástico até para os estomagos mais fortes!
Sori, eu, Mina, Iara, Rui e Lúcia
O trio maravilha, que se mataram várias vezes do matadouro.
El comandante, Djulai
Iara and her pink guitar
O Regresso à Praia na Serra Malagueta e na Assomada
Vista sobre Santiago
O grupo todo a comer o belo do frango corado, bombástico até para os estomagos mais fortes!
Sori, eu, Mina, Iara, Rui e Lúcia
O trio maravilha, que se mataram várias vezes do matadouro.
El comandante, Djulai
Iara and her pink guitar
O Mina está doido!
Red neck Mina e Sori
Tocatinas nocturnas
O Regresso à Praia na Serra Malagueta e na Assomada
Vista sobre Santiago
Euro 2008
Eu sei que é tarde e que o Euro há muito acabou, mas só agora tive acesso a estas fotos.
Jorge depois de perder a aposta em que Portugal ganhou à Turquia. Atentem à testa!!!
Jorge depois de perder a aposta em que Portugal ganhou à Turquia. Atentem à testa!!!
Sori, Ana e eu. Sempre PORTUGAL!
Banda Sonora
Plush - Stone Temple Pilots
And I feel that times a wasted go
So where ya going to tommorrow?
And I see that these are lies to come
Would you even care?
And I feel it
And I feel it
Where ya going for tommorrow?
Where ya going with that mask I found?
And I feel, and I feel
When the dogs begin to smell her
Will she smell alone?
And I feel, so much depends on the weather
So is it raining in your bedroom?
And I see, that these are the eyes of disarray
Would you even care?
And I feel it
And she feels it
Where ya going to tommorrow?
Where ya going with that mask I found?
And I feel, and I feel
When the dogs begin to smell her
Will she smell alone?
When the dogs do find her
Got time, time, to wait for tomorrow
To find it, to find it, to find it
When the dogs do find her
Got time, time, to wait for tomorrowT
o find it, to find it, to find it
Where ya going for tommorrow?
Where ya going with that mask I found?
And I feel, and I feel
When the dogs begin to smell her
Will she smell alone?
When the dogs do find her
Got time, time, to wait for tomorrow
To find it, to find it, to find it
When the dogs do find her
Got time, time, to wait for tomorrow
To find it, to find it, to find it
To find it
To find it
To find it
*Música repetida muitas vezes, mas que sempre nos fará lembrar dos fins-de-semana no Tarrafa's fall
And I feel that times a wasted go
So where ya going to tommorrow?
And I see that these are lies to come
Would you even care?
And I feel it
And I feel it
Where ya going for tommorrow?
Where ya going with that mask I found?
And I feel, and I feel
When the dogs begin to smell her
Will she smell alone?
And I feel, so much depends on the weather
So is it raining in your bedroom?
And I see, that these are the eyes of disarray
Would you even care?
And I feel it
And she feels it
Where ya going to tommorrow?
Where ya going with that mask I found?
And I feel, and I feel
When the dogs begin to smell her
Will she smell alone?
When the dogs do find her
Got time, time, to wait for tomorrow
To find it, to find it, to find it
When the dogs do find her
Got time, time, to wait for tomorrowT
o find it, to find it, to find it
Where ya going for tommorrow?
Where ya going with that mask I found?
And I feel, and I feel
When the dogs begin to smell her
Will she smell alone?
When the dogs do find her
Got time, time, to wait for tomorrow
To find it, to find it, to find it
When the dogs do find her
Got time, time, to wait for tomorrow
To find it, to find it, to find it
To find it
To find it
To find it
*Música repetida muitas vezes, mas que sempre nos fará lembrar dos fins-de-semana no Tarrafa's fall
07 outubro 2008
Volviendo
Quem costuma visitar a Tendinha está habituado às suas ausências. A escrita é só quando aparece o "filing", como se diz por cá, e as minhas luas nunca estão para lá viradas. Não, não fui contagiada pelo sítio onde trabalho, afinal já passaram dois meses...
Nestes dois meses muitas histórias por contar: o primeiro Agosto não catastrófico da minha vida, o concerto dos Nameless Project, os meus meninos da Moradia e arredores, a viagem à Boa Vista, o nosso Tarrafal... Mas a última semana foi particular em acontecimentos marcantes: nasceu uma estrelinha - o Diego, soube que outra vai nascer em Maio, o meu/minha irmãozinho/ãzinha, e o Pedro que ganhou o Prémio Revelação de Jornalismo em Angola.
A todos desejo-vos o mundo em felicidade e eu cá estarei sempre para me rejubilar com os vossos sucesso.
A primeiro foto do filhote/a dos meus paizinhos Pedro e Soraia
O Diego, outra estrelinha na minha vida
A foto que me trouxe o primeiro sorriso do dia. A minha Luna.
31 julho 2008
Inquietação do(s) dia(s)
"Não consigo dominar este estado de ansiedade
na pressa de chegar, para não chegar tarde...
Estou bem onde eu não estou, porque eu só quero ir aonde eu não vou..."
Por que é que é sempre assim comigo, em tudo na vida?
na pressa de chegar, para não chegar tarde...
Estou bem onde eu não estou, porque eu só quero ir aonde eu não vou..."
Por que é que é sempre assim comigo, em tudo na vida?
23 julho 2008
Chás e genocídios
Naquele dia 21 de Julho de 2008, Dragan Dabic contemplava pela janela do seu apartamento no centro de Belgrado o frenesim matinal de um novo dia da capital sérvia. Enquanto espiava o céu nublado, analisando assim a influência meteorológica na energia dos chakras, bebericava um chá fumegante de tília e ginseng. Prolongava-se no prazer daquele sabor raramente metalizado com aroma de caramelo. Ele gostava deste tempo pairado, num minuto zero.
Fechou os olhos para melhor se demorar naquele momento e, de repente, invade-lhe a imaginação uma cena de dezenas de cadáveres empilhados desordenadamente numa vala comum e chega mesmo a sentir o cheiro fétido da carne em decomposição. Revolta-se-lhe o estômago e uma náusea incontrolável sobe-lhe pelo esófago até explodir num vómito aliviante.
Perturbado com tão estranha perturbação do seu íntimo mental e físico, decide não mais ver noticiários de televisão, nem ouvir os blocos radiofónicos e muito menos ler jornais. Só mesmo essas imagens atrozes exaustivamente transmitidas pelos media lhe poderiam provocar tal constrangimento. E logo na sua hora contemplativa do dia!
Esquecendo o infeliz episódio matinal, Dragan Dabic monta na bicicleta, o seu meio de transporte preferido. Aliada ao Tai-chi que pratica todas as manhãs, ambos os exercícios garantiam a manutenção de “mens sana in corpore sano”. Entrou na clínica de medicinas alternativas às 8h em ponto e o cheiro de incenso tranquilizou-o. Seguiu pelo corredor dos acupuncturistas, saudando-os inclinando cordialmente a cabeça – apesar de ter passado anos a estudar a doutrina chinesa continuava fiel ao cristianismo ortodoxo, de onde extraia as lições de meditação.
A sala onde dava as suas consultas de bioenergia, matematicamente decorada segundo as regras do feng shui, abraçava-o e ali podia estender-se nos seus estudos e análises sobre o equilíbrio de forças do ser humano e da Natureza. O primeiro discípulo (era assim que chamava a quem recorria aos seus serviços, pois acreditava que ensinava as pessoas a lidar com as suas descompensações de energia) do dia chegaria apenas às 9h. Entretanto poderia debruçar-se sobre o seu artigo para a revista Zdarv Zivot consultando os livros de Bioenergologia hindu, que um colega lhe tinha trazido de um antiquário perdido algures em Bombaim.
Inspirou fundo para sentir a fragrância quase doce que os livros antigos libertam. Fechou pela segunda vez no dia os olhos. E viu-se a si próprio, sem a barba e sem as longas melenas brancas que o caracterizam, impecavelmente penteado como se tivesse passado por um barbeiro de hotel cinco estrelas. Vestido com um vaidoso Armani preto dava ordens a um homem que lhe parecia familiar – sensação que tinha pela forma como as palavras lhe saiam da boca e não por realmente conhecer a pessoa, que devia ser um general, pela farda e medalhas que ostentava. O seu nome é Radko Mladic.
“Matem-nos a todos! Demos-lhes a oportunidade de regressarem às suas casas. Não quiseram, agora exterminem-nos, violem as suas mulheres e deixem as suas crianças órfãs. Limpem-nos desta terra, para que a Bósnia volte a ser um lugar puro.”, ouviu-se. Mladic acenou afirmativamente com a cabeça, elevou a mão recta à cabeça, tocou os calcanhares e foi ordenar a matança de 8 mil homens e rapazes bósnios-muçulmanos.
Dragan Dabic libertou-se de mais este devaneio matinal quando bateram asperamente na porta da sua sala. Confuso, não entendia a razão para aquelas visões tão claras que se assemelhavam a memórias. Engoliu em seco, estava encharcado em suor. Levantou-se pesadamente do seu cadeirão ergonómico e foi ver quem o acordou daquele despropositado pesadelo.
Assim que abriu a porta e cruzou os olhos com Vladimir Vukcevic, uma película cinematográfica de assassinatos, conluios, apertos de mão, facadas nas costas, cantos de poesia épica acompanhados a guitarra rodou na sua cabeça à velocidade de menos de um segundo. Automaticamente, tudo lhe apareceu claro e translúcido.
Dragan Dabic, ele próprio, era, afinal, Radovan Karadzic, o líder sérvio e um dos senhores da guerra que matou a Bósnia no inicio dos anos 90 e fez mais de 200 mil mortos, a maioria depositados em valas comuns ainda hoje por descobrir. Estava a ser preso por aquele procurador para crimes de guerra por genocídio e foi nesse dia, 21 de Julho de 2008, que deixou de interpretar o papel de terapeuta “new age” e voltou a ser o vaidoso e caricato médico, poeta, assassino e defensor da limpeza étnica e dos ideais da Grande Sérvia.
22 julho 2008
Inquietação do dia
Estou farta! = fartinha, cheia, não posso mais, já me causa náuseas, estou a rebentar pelas costuras, a perder as estribeiras, a entrar em descontrolo, a colapsar em relação a uma certa e determinada coisa que me acontece constantemente desde que me entendo por gente. Porra!
Estou FARTA!!!!!
Estou FARTA!!!!!
17 julho 2008
Noticiário das 20h
20 horas em ponto. O sonoro relógio em contagem decrescente da televisão marca o passo do seu posicionamento disfarçadamente profissional para ver o Jornal da Noite. O encontro é certo e pontual. Sabe que ele apareceria, só não tinha a certeza porquê.
Corte de fitas, lançamento de primeiras pedras, estado da Nação, pêsames a um qualquer falecido importante? Qualquer que fosse a razão, nenhum deles faltaria à certeza do encontro. Impreterivelmente.
Ele enquadrado por um “close up”, esverdeado pela luz desregulada da camera, cercado por vários microfones pseudo-inquisidores. Ela não se acomoda no sofá para não transparecer a sua demasiada atenção, mantém os músculos do rosto contraidamente inexpressivos e finaliza cada discurso (dele) com uma risada nervosa e um comentário de quem-percebe-muito-de-todos-os-assuntos-e-problemáticas.
Em cada peça segue a mesma rotina protocolar. Automática, capta o tema a ser tratado para calcular uma opinião e, depois, troca o chip cerebral (basta-lhe sintonizar o “punctum” da peça para saber o que ele vai dizer sem ter que o escutar. Nove anos dos mesmos discursos, de máscaras e brilhos diferentes, não luzem nenhuma revelação).
Enquanto assiste os 2-3 minutos de roda de imprensa, a imaginação viaja alcançando um diálogo esquizofrénico. Ouve-o declarar à nação:
“Convoquei todos os órgãos de comunicação social para informar que a amo, exclusivamente e unicamente a ela. Que todas as temáticas estruturais e conjunturais do país são pouco significantes se comparadas à paixão incondicional que por ela nutro. No âmbito do inenarrável encanto que ela emana, asseguro que a minha vida está subjacente à sua vontade”.
Fim de citação.
O rosto (dela) mantém-se estático e, numa milésima de segundos, engendra uma profunda posição opinativa.
Amam-se desta forma. Ele papagueando a saber que ela o estaria a ver. Ela concretizando os seus desejos nos intensos minutos da reportagem do noticiário das 20h. São encontros seguros e fieis, aqueles que nunca tiveram durante o um-entre-muitos namoro de adolescência.
15 julho 2008
A Senhora das Pedras
Por: Catarina Abreu
Quem passa todas as manhãs pelo posto de gasolina da Terra Branca, uma das principais artérias da cidade da Praia, vê-a dobrada sobre si mesma à cata de pedras preciosas – o cascalho que lhe dá o pouco sustento que precisa. Pedra a pedra vai enchendo o seu balde de 5 litros, que despeja em montinhos de brita. E é assim que vai matando o seu vício, o do trabalho, aquele que não a deixa ficar sentada. Porque acredita que sentar é morrer. Aos anos que tem perdeu-lhes a conta, mas, se lhe observar as rugas, tal como se faz com as linhas dos troncos das árvores antigas, vê-se que deve estar próxima da idade centenária. Nha Maria é o nome próprio deste anónimo rosto que é a senhora das pedras.
São 10 da manhã e Nha Maria descansa o corpo franzino que parece não ter peso. Quando não está de cócoras, concentrada à busca de pedras contempla com orgulho os montinhos de cascalho que já conseguiu juntar. Ao todo são quatro. Acerco-me dela e Nha Maria retribui-me com um sorriso. Peço-lhe que me conte a sua história e noto que fica feliz por ter alguém com quem trocar dois dedos de conversa. Começa logo dizendo que tem o “vício do trabalho”. “Que quer? Que fique sozinha em casa sentada à espera que a vida passe até a morte chegar?”, questiona-me, respondendo assim à minha pergunta se esta não será uma rotina muito pesada e cansativa para ela.
Essa tal rotina de Nha Maria consiste em levantar-se cedo, tomar um copo de leite (conta que é dos poucos alimentos que não lhe causa fastio), e vir desde a sua casa, que “construiu com as próprias mãos” em Tira-Chapéu, até à Terra Branca onde passa a manhã naquele afincado labor. Até há uns meses atrás, ficava a trabalhar à tarde também, mas como o Sol de Verão fica mais forte não suporta o calor, o que a faz rumar a casa às 11 horas.
Nha Maria nasceu no Fogo, numa das localidades do interior de São Filipe. Veio para a Praia ainda pequena, onde casou e teve três filhos: dois biológicos, um dos quais já faleceu, e outro de criação. Depois do marido falecer e dos filhos casarem e rumarem para outras paragens, Nha Maria ficou sozinha. Mas não esmoreceu. Construiu com a força dos seus braços e a grandeza do espírito a casa onde vive. Concluído o ambicioso empreendimento, voltou a ficar sem ter o que fazer. Foi nessa altura que se virou para a apanha das pedras da ribeira na Terra Branca.
Não tendo como proteger o seu tesouro de cascalho, pede aos vizinhos que fiquem de olho método pouco eficaz perante a esperteza dos amigos do alheio. O único “ódiozinho” de estimação que guarda é de uma vizinha que garante ter-lhe roubado a brita, tendo-a depois vendido a um homem da Assomada. “Aquilo foi como me tirarem a colher de comida da minha boca e ter posto na sua”, afirma. “Ka ta fazedu!”
Nha Maria recebe a pensão social mínima de 3500 escudos. Pode subtrair o preço dos seus montinhos de cascalho até aos dois contos e 500. E soma ao seu pé-de-meia mensal as notas inconstantes daqueles que simpatizaram com a sua figura. Do total, dá algum à filha de criação. Diz que come pouco, costume comprovado pelas saliências ossudas do corpo magro que esconde entre panos e roupas. Perante a minha perplexidade de quem dá o que tão pouco tem, sorridente, esclarece-me: “Kel dinhero N ta da-l pa ses sinku fidju, pamodi N ka ta kume-l!”.
*Publicado na edição 857 do Jornal A Semana
09 julho 2008
TCV – Calamidade Pública
Acabei de ver uma reportagem na TCV que me fez explodir para este texto toda a indignação (e depois desta reportagem, raiva mesmo) que a televisão pública cabo-verdiana me tem provocado. Depois de muitas argoladas, pontapés na ética e deontologia jornalística e um português de bradar aos céus (isto para não falar da parte do entretenimento, em que passam séries e filmes pirateados violando as leis do país e o direito internacional. Realço mais uma vez que estamos a falar da televisão PÚBLICA, logo do Estado, que, pelo que sei, ainda é de Direito em Cabo Verde), vêm agora com uma clara violação aos Direitos da Criança.
Uma criança foi vítima de agressão sexual em São Domingos. A população está indignada, claro está. A equipa de reportagem ruma àquele concelho de Santiago, busca a criança, põe-na de costas para a camera, numa tentativa falhada de esconder a sua identidade e faz-lhe perguntas que nem tenho coragem de repetir aqui de tanto que me embrulha o estômago! Fala com os familiares da criança, os amigos, os vizinhos. Monta a bela da peça e colocam-na no ar, conseguindo assim tornar o crime, que de si já é hediondo, ainda mais horrível. Apaziguam as consciências com o aviso da pivot, antes do início da peça, que a reportagem “pode ter linguagem eventualmente chocante”.
Milhões de perguntas me surgem na cabeça. Onde é que a jornalista teve aulas de ética jornalística? Pior, onde está a sua ética pessoal, humanismo? Sim, porque esta peça só serviu para alimentar um ‘voyeurismo’ sórdido. Onde está o director de informação da TCV que permite que uma coisa destas vá para o ar? E se isto fosse com uma familiar dos profissionais envolvidos na produção da peça, gostariam que lhes invadissem a vida da mesma forma? Onde é que andam as autoridades que controlam este género de violação dos Direitos da Criança, no horário nobre da televisão pública?
Quando vi aquela peça senti raiva, muita raiva, e pena também. Pena por mais esta machadada no jornalismo cabo-verdiano. Mas acima de tudo fiquei com aquela menina na cabeça, que por não ter adultos que a protejam quer contra quem a agride fisicamente, quer quem o faz psicologicamente desta forma tão leviana!
Uma criança foi vítima de agressão sexual em São Domingos. A população está indignada, claro está. A equipa de reportagem ruma àquele concelho de Santiago, busca a criança, põe-na de costas para a camera, numa tentativa falhada de esconder a sua identidade e faz-lhe perguntas que nem tenho coragem de repetir aqui de tanto que me embrulha o estômago! Fala com os familiares da criança, os amigos, os vizinhos. Monta a bela da peça e colocam-na no ar, conseguindo assim tornar o crime, que de si já é hediondo, ainda mais horrível. Apaziguam as consciências com o aviso da pivot, antes do início da peça, que a reportagem “pode ter linguagem eventualmente chocante”.
Milhões de perguntas me surgem na cabeça. Onde é que a jornalista teve aulas de ética jornalística? Pior, onde está a sua ética pessoal, humanismo? Sim, porque esta peça só serviu para alimentar um ‘voyeurismo’ sórdido. Onde está o director de informação da TCV que permite que uma coisa destas vá para o ar? E se isto fosse com uma familiar dos profissionais envolvidos na produção da peça, gostariam que lhes invadissem a vida da mesma forma? Onde é que andam as autoridades que controlam este género de violação dos Direitos da Criança, no horário nobre da televisão pública?
Quando vi aquela peça senti raiva, muita raiva, e pena também. Pena por mais esta machadada no jornalismo cabo-verdiano. Mas acima de tudo fiquei com aquela menina na cabeça, que por não ter adultos que a protejam quer contra quem a agride fisicamente, quer quem o faz psicologicamente desta forma tão leviana!
08 julho 2008
Inquietação do dia
Alguém me pode responder?
Por que é que os funcionários dos cafés, bares e restaurantes em Cabo Verde, entre duas mesas usadas, uma com clientes e outra sem, optam SEMPRE por limpar aquela que não tem clientes, deixando as pessoas que querem ser atendidas à espera?
Por que é que os funcionários dos cafés, bares e restaurantes em Cabo Verde, entre duas mesas usadas, uma com clientes e outra sem, optam SEMPRE por limpar aquela que não tem clientes, deixando as pessoas que querem ser atendidas à espera?
À décima é pró Palácio da Presidência!
Um ano, seis meses e oito dias de Cabo Verde (tirando um mês e meio que totalizam o meu tempo de férias em Portugal) já conto com cinco mudanças em cima. Só este ano foram quatro casas e, como costumo dizer, aquilo que chamo de lar não é o espaço físico onde estou mas sim as minhas coisinhas e traquitanas que me proliferam pela vida e contam a minha história.
Pela Cidade da Praia já passei pelo Palmarejo, Descida do Lavadouro, Fazenda, Ponta Belém e agora Plateau, rua 5 de Julho (faz aqui lembrar a observação do Tide – mudei-me para a 5 de Julho, no dia 5 Julho. Algumas conclusões a tirar?). Cada mudança envolveu uma peripécia, ao bom estilo comédia trágica, como tudo o que acontece na minha vida.
Do Palmarejo saí porque detesto a zona e a minha rua, na altura, não era propícia para uma menina sozinha viver (só depois de sair é que soube que por lá se "passavam" coisas duvidosas). Depois fui para a casa do jardim, linda e cheia de luz, um paraíso na Praia até ter sido assaltada com retoques de calculismo e estudo de vida (trauma dos telemóveis, deixo-os em casa para não mos roubarem mas nem assim…).
Rumei à Fazenda, recurso de emergência, a casa até era agradável. Menos positivo eram os orgasmos barulhentos da minha vizinha de cima às 5 horas da manhã e que me acordavam a meio da noite. Isto para não falar do bar no andar de baixo que funcionava até os orgasmos começarem e que também não primava pela tranquilidade.
De um dia para o outro, mudei para Ponta Belém, zona do Plateau, onde desde o dia em que cheguei à Praia queria morar… Seria este o início da realização de algo que eu queria mesmo muito? Não. A casinha é linda, mas como a Ana disse – e bem – é um engodo. Uma semana de “acho que assentei de vez e finalmente vou morar num local que gosto” e lá apareceu a besta implacável que atormentou os meus dias e, pior ainda, as minhas noites. Equipa de desparatização na área, férias em Portugal a pensar no assunto (sempre a questionar-me se quando chegasse à Praia o “Stuart” não ia estar a morar na minha casa com a sua família), rede caríssima de fio de arame não chegaram para neutralizar os meus medos. Resultado? Noites sem dormir, ansiedade constante e rejeição tal à casa que lá não conseguia ficar dentro dela mais de 30 minutos.
Até que a Ana deixa a sua casinha de sempre na rua 5 de Julho e, tal como, mais uma vez sabiamente, diz, fui “trocar uns problemas por outros. Mas como estes são novos, talvez me pareçam mais fáceis de lidar”. Agora sinto-me bem, até as próximas chuvas porem à prova as obras que a senhoria anda a fazer no telhado. É bem possível que um dia destes encontre uma tropical cachoeira na época das chuvas, mas animaizinhos com nomes começados por R, isso garantiram-me que é pouco provável.
Não vou lançar foguetes só porque agora estou bem. Não vá o Diabo tecê-las, como adora fazer comigo, e tenha eu encontrado uma “bela” que daqui a uma semana vira “monstro”. Porque mudar mais uma vez é bem possível. E já disse, por este andar, à décima é pró Palácio da Presidência!
12 junho 2008
Ratos, amigos e outras considerações
No dia a seguir à fatídica noite em que aquela besta invadiu a minha casa, tirando-me o sono, a calma e a paz de espírito, o Pedro disse-me “Precisas de um homem em casa”. Assim que terminou de sentenciar a minha necessidade de deixar de ser uma mulher livre e sem compromisso (que gosta desse estado) pensei que as coisas não se podem ver nesses termos. Porquê?
Porque tenho os melhores amigos do mundo. Daqueles mesmo amigos, verdadeiros sem fachadas nem interesses, e que dispõem não só o célebre ombro como os colchões das suas casas, as suas infinitas paciências e que gostam de mim, apesar de todos os defeitos, “pessanhas”, fobias e maus génios que eu possa ter, ou melhor, que eu tenho mesmo.
É a esses amigos a quem posso chamar a meio da noite que quero dizer o meu imenso obrigada (sei que às vezes exagero no ‘obrigada’ e ‘desculpa’, mas vá lá, mais uma vez ‘desculpem’ os ‘obrigadas’). Adoro-vos daqui ao céu e vocês estarão sempre nessa constelação que ilumina a minha vida!
Não à Discriminação das Escolas em Cabo Verde
No passado dia 28 de Maio de 2008, uma jovem cabo-verdiana estudante do 11 ano, na Escola Secundaria Januario Leite, no concelho do Paul, foi convidada a anular a sua matricula por motivo de parto. Indignada com esse amargo sabor da discriminacao feminina nas escolas cabo-verdianas, Ana Rodrigues escreveu uma carta para a Sra. Ministra da Educacao, suplicando pelo direito de continuar os seus estudos, sem uma interrupcao indesejada neste ano lectivo preste a findar.
Diante deste caso e tendo conhecimento de outros casos, exigimos um enquadramento especial para as gravidas nas escolas, deixando claro que nao queremos incentivar a gravidez precoce, mas combater o abandono escolar e a discriminacao que a referida medida de suspensao implica.
Subscreva esta peticao a favor da aluna Ana Rodrigues e deixe a sua opiniao sobre essa medida de suspensao.
Minha gente é hora de subscrever porque esta medida de suspender as meninas grávidas das escolas é um ABSURDO!!!!
http://www.ipetitions.com/petition/dicriminacaonaescola?e
Diante deste caso e tendo conhecimento de outros casos, exigimos um enquadramento especial para as gravidas nas escolas, deixando claro que nao queremos incentivar a gravidez precoce, mas combater o abandono escolar e a discriminacao que a referida medida de suspensao implica.
Subscreva esta peticao a favor da aluna Ana Rodrigues e deixe a sua opiniao sobre essa medida de suspensao.
Minha gente é hora de subscrever porque esta medida de suspender as meninas grávidas das escolas é um ABSURDO!!!!
http://www.ipetitions.com/petition/dicriminacaonaescola?e
26 maio 2008
A menina que vai a todos os comícios
Por: Catarina Abreu
A menina que vai a todos os comícios levanta-se cedo todos os dias para arrumar a casa, bater roupa e pentear os irmãos mais novos. Um deles até o poderia ser, se não fosse seu filho, razão pela qual anos antes foi obrigada a deixar a escola. Todos os dias fica por casa – a mãe trabalha na terra e o pai nos Estados Unidos. Mas desde o dia 1 de Maio que a sua vida tem uma alegria nova. Intensa e pouco duradoura. O prazo de validade está marcado para o próximo dia 19 de Maio, quando campanha e as eleições já terão terminado. Talvez até uns dias mais, para festejar a vitória do seu candidato. Aí então seria festa “bedju” por todos os cantos do concelho, com feijoadas, música bodona e paródia “dia, noite manchê”.
Quase todas as tardes, em vez de ficar em casa, veste a sua camisola do partido devidamente estilizada como está na moda na ilha do Fogo. Tal como as suas colegas e amigas, aproveita a t-shirt brinde da força política da sua preferência. Rasga, corta e cose de acordo com a sua imaginação e vai criando um estilo próprio. Na surdina, há uma competição entre elas para ver quem tem o design mais original.
Por volta das duas da tarde, a ‘hyace’ de serviço, apetrechada de cartazes do partido e balões, tocando a banda sonora do candidato, já chegou. É hora de subir para o carro e seguir viagem para a localidade onde o comício está marcado para hoje. Todos os dias é assim, a candidatura dá à menina transporte, alimentação e passeios de graça. E um ideal para acreditar. A menina dá à candidatura a alegria, voz e companhia das suas amigas, meninas como ela. Fazem-no com todo o fervor porque as gentes do Fogo são assim mesmo. Se acreditam em alguma coisa, entregam-se de corpo, alma e coração, acima de tudo e de todos. A menina e as suas colegas são a escolta do seu candidato e esta militância garante ao apoiado que as apoiantes não o vão desiludir no dia 18 de Maio. A vitória está garantida.
Mas a menina que vai a todos os comícios é apenas uma das pinceladas que compõe o quadro apaixonado dos tempos eleitorais no Fogo. A indiferença é algo nunca visto pelas terras do vulcão e cada um vive este ambiente ‘sui generis’ da ilha. No regresso das escolas, as crianças juntam-se para voltar a casa mas também para discutir política e ensaiar as palavras de ordem partidárias dos comícios. Os jogos de rua são diferentes também por esta altura e passam-se em palanques de brincar e discursos imaginários.
O mercado é um lugar farto em debate de ideias, frente a frente, está a senhora da fruta, que quer a continuidade e defende acerrimamente o seu candidato. Contra si, neste embate político no feminino, está a senhora dos queijos, que se diz “independenti” e que quer sangue novo a correr nas veias da Câmara Municipal.
Mudando de contexto, o assunto é o mesmo na barbearia mais central da vila. O escárnio marca o tom das conversas, que versam sobre as ofertas de cimento e sanitários normalmente feitas pelo partido que está no poder e que agora estão comprometidas devido ao afundamento do navio Musteru. O pedreiro, enquanto lhe moldam a barba ao milímetro, queixa-se que não consegue dar vazão aos seus expedientes porque não há cimento na cidade.
Um passeio em silêncio e atento pelas ruas de um dos três concelhos da ilha não descortinam conversas fora do âmbito político. Tudo se discute, todos os pormenores, roupas, penteados, ‘gaffes’, bocas, ideias, cores e vozes. Fala-se destas eleições a ferro e fogo com a propriedade e a paixão, que só as gentes do vulcão sentem. E entre elas, está a menina que vai a todos os comícios.
*Crónica publicada na edição 849º do Jornal A Semana
A menina que vai a todos os comícios levanta-se cedo todos os dias para arrumar a casa, bater roupa e pentear os irmãos mais novos. Um deles até o poderia ser, se não fosse seu filho, razão pela qual anos antes foi obrigada a deixar a escola. Todos os dias fica por casa – a mãe trabalha na terra e o pai nos Estados Unidos. Mas desde o dia 1 de Maio que a sua vida tem uma alegria nova. Intensa e pouco duradoura. O prazo de validade está marcado para o próximo dia 19 de Maio, quando campanha e as eleições já terão terminado. Talvez até uns dias mais, para festejar a vitória do seu candidato. Aí então seria festa “bedju” por todos os cantos do concelho, com feijoadas, música bodona e paródia “dia, noite manchê”.
Quase todas as tardes, em vez de ficar em casa, veste a sua camisola do partido devidamente estilizada como está na moda na ilha do Fogo. Tal como as suas colegas e amigas, aproveita a t-shirt brinde da força política da sua preferência. Rasga, corta e cose de acordo com a sua imaginação e vai criando um estilo próprio. Na surdina, há uma competição entre elas para ver quem tem o design mais original.
Por volta das duas da tarde, a ‘hyace’ de serviço, apetrechada de cartazes do partido e balões, tocando a banda sonora do candidato, já chegou. É hora de subir para o carro e seguir viagem para a localidade onde o comício está marcado para hoje. Todos os dias é assim, a candidatura dá à menina transporte, alimentação e passeios de graça. E um ideal para acreditar. A menina dá à candidatura a alegria, voz e companhia das suas amigas, meninas como ela. Fazem-no com todo o fervor porque as gentes do Fogo são assim mesmo. Se acreditam em alguma coisa, entregam-se de corpo, alma e coração, acima de tudo e de todos. A menina e as suas colegas são a escolta do seu candidato e esta militância garante ao apoiado que as apoiantes não o vão desiludir no dia 18 de Maio. A vitória está garantida.
Mas a menina que vai a todos os comícios é apenas uma das pinceladas que compõe o quadro apaixonado dos tempos eleitorais no Fogo. A indiferença é algo nunca visto pelas terras do vulcão e cada um vive este ambiente ‘sui generis’ da ilha. No regresso das escolas, as crianças juntam-se para voltar a casa mas também para discutir política e ensaiar as palavras de ordem partidárias dos comícios. Os jogos de rua são diferentes também por esta altura e passam-se em palanques de brincar e discursos imaginários.
O mercado é um lugar farto em debate de ideias, frente a frente, está a senhora da fruta, que quer a continuidade e defende acerrimamente o seu candidato. Contra si, neste embate político no feminino, está a senhora dos queijos, que se diz “independenti” e que quer sangue novo a correr nas veias da Câmara Municipal.
Mudando de contexto, o assunto é o mesmo na barbearia mais central da vila. O escárnio marca o tom das conversas, que versam sobre as ofertas de cimento e sanitários normalmente feitas pelo partido que está no poder e que agora estão comprometidas devido ao afundamento do navio Musteru. O pedreiro, enquanto lhe moldam a barba ao milímetro, queixa-se que não consegue dar vazão aos seus expedientes porque não há cimento na cidade.
Um passeio em silêncio e atento pelas ruas de um dos três concelhos da ilha não descortinam conversas fora do âmbito político. Tudo se discute, todos os pormenores, roupas, penteados, ‘gaffes’, bocas, ideias, cores e vozes. Fala-se destas eleições a ferro e fogo com a propriedade e a paixão, que só as gentes do vulcão sentem. E entre elas, está a menina que vai a todos os comícios.
*Crónica publicada na edição 849º do Jornal A Semana
Eleições feelingadas
Imaginem uma final do Campeonato de Futebol, em que jogam Porto e Benfica. As paixões assumem-se e ou se é carne ou peixe. O espírito é o mesmo pelas terras crioulas no que toca à política.
18 de Maio PAICV e MpD (alguns disfarçados de grupos independentes) enfrentaram-se nas Autárquicas 2008. Muita campanha eleitoral, discursos, bocas, brindes, camisolas, “boca da urna”, ‘fladu fla’, gritos antecipados de vitória, alegrias e frustrações, autismos e clarividências lá chegou aos 22 escolhidos para governar os municípios cabo-verdianos nos próximos quatro anos.
Ideologias e partidarismos à parte, fazer a cobertura da campanha eleitoral foi das melhores experiências que tive a nível profissional, apesar de todo o stress, horas sem dormir e etc etc. ficam aqui algumas fotos do que foram para mim as eleições em Cabo Verde.
Pracinha da Assomada, durante a tarde da votação.
Estas são as imagens do dia seguinte, segunda-feira, à eleição. O MpD ganhou e desde que sairam os resultados as 'hiaces' não pararam. Mais de 24 horas de festa em que mais nada funcionava, apenas os serviços mínimos...
18 de Maio PAICV e MpD (alguns disfarçados de grupos independentes) enfrentaram-se nas Autárquicas 2008. Muita campanha eleitoral, discursos, bocas, brindes, camisolas, “boca da urna”, ‘fladu fla’, gritos antecipados de vitória, alegrias e frustrações, autismos e clarividências lá chegou aos 22 escolhidos para governar os municípios cabo-verdianos nos próximos quatro anos.
Ideologias e partidarismos à parte, fazer a cobertura da campanha eleitoral foi das melhores experiências que tive a nível profissional, apesar de todo o stress, horas sem dormir e etc etc. ficam aqui algumas fotos do que foram para mim as eleições em Cabo Verde.
Pracinha da Assomada, durante a tarde da votação.
Estas são as imagens do dia seguinte, segunda-feira, à eleição. O MpD ganhou e desde que sairam os resultados as 'hiaces' não pararam. Mais de 24 horas de festa em que mais nada funcionava, apenas os serviços mínimos...
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