14 dezembro 2010

Calma

Calma é uma assistente social grávida tranquilizar uma mulher transtornada por lhe terem cortado o subsídio, logo este mês, que é mês de Natal. "Só" porque não levou a filha às consultas de ortopedia e ela mesma não foi ao controlo obrigatório da metadona, condição 'sine qua non' para receber o famigerado RSI.

Calma é essa assistente social grávida ouvir ameças a uma colega sua (que estava igualmente calma), de que lhe vai "cortar a cara", de que vai matá-la, de que ela vai saber o que é fome e continuar com o rosto inalterável: nem uma tremura no lábio, nem um espremer de mãos, nem uma contracção no sobrolho.

Calma é essa assistente social grávida ser alertada por alguém bem menos calmo de que a mulher transtornada já pegou na faca e a escondeu no bolso, ser-lhe perguntado por que é que ainda não se chamou a polícia e responder, com toda a calma do mundo, que já ligaram há uma hora mas que ainda não chegaram.

Calma é essa assistente social grávida - e as suas colegas, inclusivamente "a ameaçada" - permanecer não impávida mas serena e recorrer ao ditado que lhes retrata a vida: Este é o pão nosso de cada dia por aqui.


9.10.2010, numa instituição de solidariedade social pública em Guimarães

Sobre a procura de emprego

"A resposta mais humana que recebi foram as mensagens automáticas enviadas electronicamente."

Filipe, 30 anos

Casa dos segredos

"É como ver uma colónia de formigas, só que menos activas."

Filipe, 30 anos

Medo

"Eu também sou medricas, mas não tenho medo de nada e sou mais forte que os adultos."

Susana, 5 anos

02 dezembro 2010

Tu

Mais do que
_____meu amigo
_____prova de bondade
_____sorriso de luz
_____magia na entrega
_____sina de sorte
_____linha comigo cruzada
_____amor da minha vida

És a minha esperança em algo maior!

NICOLINAS

Nascemos, crescemos, tornamo-nos adultos e morremos. Brincamos, zangamo-nos, procriamos e desaparecemos. Este é o resumo do ser humano. Mas às pessoas de Guimarães, àquelas que trazem no ADN um amor a uma cidade demasiadas vezes mais madrasta que mãe, está reservado um acontecimento, não pontual mas perene, que os acompanha em cada estágio da vida: as Nicolinas.

Está tão enraizado que só tarde, quando os de fora nos "abrem os olhos", é que nos apercebemos da singularidade de uma tradição com mais de 300 anos. Dá-se um clique. É que estas festas são tão naturais no nosso crescimento como esfolar um joelho ou jogar ao elástico.

Hoje de manhã cedo, enquanto caminhava até ao comboio, ouvi aquele batimento cardíaco exclusivo da minha cidade: o rufar das caixas ao compasso do bizarro fantoche. O ouvido estranhou: hoje é dia 02 de Dezembro... O Pinheiro já passou, as Maçazinhas, Pregão, Posses, Magusto, Baile e Danças ainda estão por vir. Só poderia ser o chamamento para as Novenas.

E, à medida que os meus passos rápidos me afastavam daquele som, a alma ia caminhando mais cheia de Guimarães.

Xícara

É com alegria imensa, daquela à pais babados, que te vejo subir ao palco. Quero ver-vos por muitos mais plateaux, tantos quantos a vossa música com certeza merece.


Verão 2010















O Inverno está aí, disfarçado com nome de outra estação. Mas eu não podia deixar de aqui fazer esta mostra "ex-temporânea" do meu Verão 2010.

06 agosto 2010

Tchuba

No meu primeiro ano em Cabo Verde, quando começaram as chuvas no mês de Agosto, o meu chefe de redacção pediu-me para elaborar um texto a anunciar que 'tchuba dja da mantenha'.

Nessa altura achei o pedido bastante estranho e até pensei ser algum tipo de "xuxadera" perpretada pelo meu subtilmente jocoso chefe de redacção à minha ignorância natural no que respeita ao país que ainda estava a descobrir (sem nunca ter descoberto por completo...). Mas afinal, não. Lá no seu tom disse: "Não estou a brincar, menina, vai lá fazer o texto!".

E fui. E dei-me conta que realmente a chuva é uma benção, a chuva é amiga (a maioria das vezes...) e faz muita gente feliz! Fiz o texto e pelo número de comentários que esse artigo teve percebi o impacto que as gotinhas de água tem nas pessoas, principalmente para aqueles que estão na 'terra lonji'.

É que quando o meu chefe de redacção me disse para fazer o texto eu ainda arrisquei, petulante: "Mas toda a gente vê que está a chover!". Explicou-me então que esse artigo era importante para a diáspora, sempre atenta aos auspícios e desaires de Cabo Verde.

Agora também eu estou na 'terra lonji', alegro-me ao saber que a chuva já chegou e que as perspectivas são de um bom ano para a 'sementera', tão sedenta do precioso elemento.

Já sei por que é que se escreve notícias sobre a chuva.

19 julho 2010

Thank you for being our home, when we are away from home


Foto: Sara Sampaio (Marés Vivas, 17 de Julho de 2010)

Marés Vivas: Ben Harper, o rei do festival
Por Pedro Andrade - jpn@icicom.up.pt

Em noite de casa cheia, Ben Harper protagoniza um dos momentos altos de todo o Marés Vivas. Com um cartaz consistente, o concerto dos Editors acaba por desiludir o público no último dia do festival gaiense.

Depois de uma segunda noite praticamente esgotada, a praia do Cabedelo pareceu pequenapequena [Ver] para receber todos os que rumaram até ao Marés Vivas na última noite do festival. Com um cartaz apetecível, era grande a afluência ao final da tarde, fazendo prever a maior enchente da oitava edição do evento.

Quando Ben Harper subiu ao palco, sorridente e a acenar ao público, era praticamente impossível circular pelo recinto. Com um atraso de 15 minutos, o público respondeu efusivamente logo no início do espectáculo, ao cantarem em uníssono um dos grandes temas do cantor californiano, "Diamonds On The Inside". Na bagagem, Ben HarperBen Harper [Ver] traz o disco de 2009, "White Lies for Dark Times", que explora a vertente rockeira do artista.

Energético e bem disposto, Ben Harper fez questão de lembrar o público do "local fantástico" onde se realiza o festival. Numa actuação pautada pelo som da guitarra e pelas jam sessions, o cantor de Claremont tocou "Billie Jean", de Michael Jackson, antes de fazer o público vibrar com o tema "Better Ways".

Acompanhado pelos Rentless7, Ben Harper não termina o concerto sem antes voltar ao mais recente trabalho para tocar o tema "Up To You Now". Com direito a dois encores, o público não arredou pé do recinto e aplaudiu energicamente o artista que fechou em grande, depois de 2h20 de espectáculo, a oitava edição do Marés Vivas. No final, Ben Harper teve ainda tempo para apresentar os Rentless7 e agradecer todo o carinho do público.

14 julho 2010

Ó FLÁÁÁÁÁÁÁÁÁVIO!!!!!!

Procura-se:

Rapaz entre os 20 e os 25 anos, com uma t-shirt dos Pearl Jam e com uma camisa de xadrez de flanela verde.

Fez a linha Cais do Sodré-Algés, no dia 10 de Julho, entre as 18h e as 19h, com quatro raparigas de Guimarães, que falavam pelos cotovelos e tinham assim um ar meio perdido. Ah! E que têm uma solidariedade particular com focas.

O Flávio tem um sobrinho, mora em Sintra e mais não sabemos a não ser que deve ser mesmo muito boa pessoa (só pode, porque não foi a um concerto de Alice in Chains para tomar conta do sobrinho, ajudou-nos a "contornar" filas abismais para ir para Algés sem nos conhecer de lado nenhum e, obviamente, porque gosta de Pearl Jam).

Perdemo-nos dele na entrada para o Alive e gostávamos mesmo (nós, as quatro raparigas de Guimarães, que falavam pelos cotovelos e tinham assim um ar meio perdido) de lhe agradecer.

Ah! E esperamos do fundo da nossa alma festivaleira que tenha ficado bem lá à frente enquanto que o Eddie Vedder bebia uma garrafa de vinho (um maduro alentejano, aposto), desfilava com a bandeira de Portugal nas costas e emocionava 45 mil pessoas com afagos de espírito (outro nome que se dá às músicas dos Pearl Jam).

Bem gritamos a noite toda pelo FLÁÁÁÁÁÁÁÁÁVIO, mas não resultou. Ainda acredito que foi porque não pedimos o megafone emprestado aos Homens da Luta.

Flávio, se algum dia leres esta mensagem, é só mesmo para te dizer OBRIGADA!

Nós & Falâncio

Homens da Luta @ Optimus Alive 2010 (10 de Julho)
E o povo, pá?

13 julho 2010

Pearl Jam

Foto: Eduardo Brito (Optimus Alive, 10 de Julho de 2010)

Realizei um sonho. E mais não consigo dizer. É que faltam-me mesmo as palavras...


Estes são os factos:

Oh I, ohh, I'm still alive
«Além de várias referências (verbais e em temas, início com Release Me, incluírem Smile) a Cascais/1996, quando começou a forte relação entre os PJ e fãs portugueses, à quinta música Eddie Vedder leu um texto em português onde anunciou ser aquele o «último concerto» da banda, «não para sempre, mas por muito tempo».
Lançado o fantasma do fim ou pelo menos pausa da banda - e sendo visível o cansaço sobretudo de Eddie (McCready arrasou), no último concerto da tour, já nada tirou a tónica melancólica de um espectáculo já de si nostálgico - Ten foi o disco mais tocado e tudo pareceu um firmar do amor de Eddie a Portugal: ao surf, às ondas que pediu que apanhássemos por ele, ao público, o que «melhor canta» e sobre o qual diz «não ter como mostrar como o fazem sentir» e ao país, sobre o qual completou uma canção iniciada em 96, quando todos gritavam 'Portugal' e que agora tem letra completa, com promessas de vir cá morar.
Portugal deu aos PJ um festival com nome de um tema e a expressão reiterada de uma admiração digna de ídolos de uma geração. Os Pearl Jam sempre retribuíram e isso, com ou sem pausa, já ninguém nos tira."

Por Patrícia Naves, no Destak



"Talvez em jeito de despedida, Eddie Vedder e companheiros entraram com “Release”, a última faixa de “Ten”, que durante anos abriu os concertos do grupo.
A cumplicidade dos Pearl Jam com Portugal ficou mais uma vez evidente, com Eddie Vedder a elogiar constantemente as capacidades vocais dos mais de 40 mil presentes. “Portugal é o melhor país do mundo para encerrar digressões”, disse antes de abandonar o palco, depois de dois encores, com a bandeira nacional às costas.
Antes disso, a banda de Seattle desfiou um alinhamento que visitou vários momentos da carreira do grupo, optando por músicas pouco previsíveis como “Smile”, “Glorified G”, “Why Go”, “Once”, e recuperando até um improviso feito no concerto do Restelo, em 2002 com “Portugal, Portugal” como refrão. Para memória futura ficam os dois encores cantados em uníssono, com o refrão de “Betterman” repetido até à exaustão, e o fim da noite com “Alive” e “Yellow Leadbetter”.

por André Brito

12 julho 2010

Sintonizando o crioulo

Muito poderia eu dizer deste primeiro ano de "separaçon", do tempo em que estou longe, desde que deixei Cabo Verde (o momento da partida infinitas vezes experimentada por esse Cabo Verde, tantas quantas famílias há para contar nos "dez grãozinhos de terra").

Mas acho que tudo se resume ao meu ouvido. Pela rua, em discotecas, nos shoppings, em concertos: o meu ouvido está sempre sintonizado na frequência do crioulo, ávido de ouvir só mais um bocadinho da língua também mãe - muito mais mãe que madrasta!

E assim ando, há um ano. Existem aqueles que precisam dos cheiros da terra, de imagens, de "pé di badju". Eu só quero mesmo ouvir, escutar crioulo que me transporta de volta ao interior verde seco de Santiago, às ruas do Mindelo e à minha Rua 5 de Julho...

(4 de Julho de 2010 - Um ano)

05 julho 2010

O que (n)os move?

Fé, desespero, angústia, superação pessoal e promessas.
Histórias de vida, experiência, descoberta e a primeira vez.
Mundos diferentes misturados num destino.
Peregrinos e "caminhantes" partilham o mesmo trilho.
Lágrimas, alegria e exaustão. No final, a letargia.


3/4 de Julho de 2010, Guimarães - São Bento da Porta Aberta (48 quilómetros, cerca de 10 horas de caminho)

Natiruts@Guimarães



(dia 30 de Junho, 2010)

"A energia vem do coração e a alma não se entrega, não!"

15 março 2010

Lá nos recônditos da nossa memória há coisas mesmo maravilhosas

Rupert and the frog song

Fiquei tão emocionada quando ouvi isto no sábado à noite...

À Sílvia, que sabe do que estou a falar.

23 fevereiro 2010

À Madeira, a Pérola do Atlântico

http://tsf.sapo.pt/Programas/programa.aspx?content_id=903681&audio_id=1501138

Por Fernando Alves, "No Golden State", em "Sinais"

Carnaval 2010















Quatro "baianas" a espalhar boas energias. O Camdomblé. Um ermita e a sua Luisinha. Dois bonecos de neve rechonchudos e com ar de gostarem do tintol. Muito frio, mas tão quentinhas. É bom ter noites assim, a fazer lembrar que o Carnaval é lindo e que a imaginação não tem limites. Principalmente quando se tem duas amigas que tratam de tudo. Obrigada Rute e Silvi! (Ah e à Paulinha, sem a qual não poderíamos ter registo desta noite, de mais uma noite, do álbum das melhores recordações)

18 fevereiro 2010

Recado

"And now you do what they told ya, now you're under control
And now you do what they told ya!

...

"Fuck you, I won't do what you tell me
Fuck you, I won't do what you tell me!"

by Rage against the machine, "Killing in the name of"

11 fevereiro 2010

Sembinha

"O semba bateu no peito
e a moça aceitou na hora.
E a gente dançou pela noite fora,
e tanto caiu e tanto aprendreu.
Encontrei meu amor no semba."

Paulo Flores

26 janeiro 2010

Vencer na vida

Questiono o que significa o sucesso:

Não gosto que exijam de mim que tenha um carro, que esteja refém da prestação de uma casa, nem que me queiram nas férias deitada ao sol em destinos de pulseirinha turística.

Não gosto que me queiram competitiva, a lutar por algo em que não acredito nem que me tentem impor ideais do dinheiro e da hipócrita ascensão social.

Não gosto que achem obrigatória em mim a aspiração natural a um posto de chefia para veicular diferenças de poder como forma de afirmação pessoal.

O ser humano metamorfoseia-se: o poder nas mãos penetra-lhe na pele, toma-lhe as vísceras, sobe-lhe à cabeça, domina-lhe o coração e – finalmente – transforma-lhe a personalidade. Raras excepções, a pessoa que é subalterna num dia não se mantém a mesma quando chefe amanhã.

A vida agora traça-se por objectivos e agendas e não por sonhos…

Não quero nada disto para mim. Esses são as vossas metas, não as minhas. Nem tão pouco admito que por não almejar aos vossos objectivos me venham dizer que não vou vencer na vida.