28 março 2011

A crise e o futebol de domingo à tarde

Sendo que o futebol vive da febre dos adeptos, o desfasamento dos horários da bola em relação àquilo que os adeptos querem é, no mínimo, injusto.

Prova disso foi a minha tarde de ontem. Fomos os cinco A1 abaixo, numa viagem interrompida pelo desvio até uma terrinha perto da Mealhada para o leitão (pelos vistos, é dado adquirido que as iguarias que caracterizam uma cidade são sempre melhores na periferia). E de repente, algures por Águeda, parecia que estavamos em Guimarães porque a fila que se formava à espera de mesa era feita só de rostos vimaranenses.

Rumo a Coimbra, cafés, roulotes de cachorros e bombas de gasolina borbulhavam de adeptos vitorianos. Depois de pouco mais de 90 minutos de sofrer a bom sofrer, o Vitória voltou a Guimarães com o almejado passaporte para o Jamor. A festa foi "tremendamente indiscritível".

Pelas 21h30, numa estação de serviço a norte os porta-bagagens serviam de mesa de piquenique e o parque de estacionamento estava transformado em recinto de festa. O convívio saudável, feliz, haveria de continuar no berço, onde mais de 4000 adeptos receberam a equipa.

Ontem não foi só o Vitória que ficou a ganhar. O comércio local conimbricense e as cidades circundantes fizeram um dia de greve à crise. O futebol de domingo à tarde não serve só para a alegria dos adeptos, serve também de balão de oxigénio para as economias locais.

07 março 2011

Se não és um animal, estás lixado.

Nesta luta por um lugar ao sol do trabalho (ao sol, não à sombra) tens que ser um verdadeiro animal. Só o instinto de sobrevivência apuradíssimo na comunicação, nos gestos estudados, nas roupas cool, na linguagem apelativa e cheia de soud bites é que faz com que te entre algum no final do mês.

O reconhecimento, esse, acontece-te quando te tornas um "diamante" que, de tanto brilho - qual fogo de artifício! - ofuscas os "demais". Mas já pensaste o que a vida reserva aos "demais" (se calhar até és um deles!)?

E se não fores este animal? E se não tiveres o instinto? E se só queres para ti uma vida segura, sem grandes mossas e empreendimentos? É que, sabes, nem toda a gente tem as características para ser um Steve Jobbs, nem que seja o Steve Jobbs lá da terrinha, e isso não os torna menos competentes.

Por que é que o "diamante" tem direito à vida exótica que almeja e os "demais" são olhados de lado por quererem uma vida simples? Tratam-se de escolhas e há quem só queira a vida de casa-trabalho-trabalho-casa, jogos de futebol com os filhos ao sábado de manhã e passeios aos domingos à tarde. E é verdade que têm direito a isso.

Só que hoje em dia não és ninguém se não tiveres feito Erasmus numa qualquer capital europeia, tirado mestrado em Londres ou em Roma e passado seis meses a viajar pelos países asiáticos. Tens que ser cosmopolita, falar como se entendesses de tudo, ter uma opinião sobre a vida e o mundo na ponta da língua.

E não te espera grande futuro se não tiveres a hipocrisia suficiente para responder às sacramentais perguntas de 'La Palice' das entrevistas de emprego do género "Quem és tu?" e "Onde te vês daqui a três anos". Estás condenado se tens as 'hard skills' necessárias para desenvolver o teu trabalho mas não consegues vender areia no deserto. Porque hoje ou és um animal ou estás lixado.