26 novembro 2007

Na nha primero hora di bai...



E assim chegou a minha primeira "hora di bai", um sentimento bilingue assalta-me, engulo em seco e o meu coração aperta-me. Evito chorar aqui e agora. Quando penso neste ano que passou, uma película de imagens e vivências corre-me na mente a mil à hora. O ser humano é capaz de aguentar muito mais do que aquilo que julga de si próprio. E quando penso nos 10 meses e 17 dias que passei longe de casa, não consigo acreditar e parece que tudo que tive e vivi foi um sonho. Começo, por isso, a delinear estratégias para controlar esta ansiedade que me consome e não me deixa dormir. Confesso que tenho vontade de dormir estes dias até chegar a hora de ir, mas isso seria o fácil e não passaria eu por mais este processo de crescimento.

Este foi um ano em que cresci como nunca, em que tive mesmo a consciência de um crescimento. Durante a nossa vida crescemos naturalmente, sem nos darmos conta disso. Ano após ano estamos diferentes, "mais grandes", mais maduros, mas nunca o sentimos claramente e assinalado no calendário. Pela primeira vez, tenho esse discernimento claro e preciso - consigo apontar as datas em que me tornei maior, adulta e quando muitas vezes deixei cair o meu véu cor-de-rosa, que me cobre os olhos e me guarda a vida.

Vim para um outro país, um outro continente. Língua, cultura, gentes, danças, música, relações, paisagens, histórias e estórias diferentes. Pela primeira vez só, livremente e convictamente só. Pela primeira vez saber em concreto e na pele o que é a saudade. Longe da minha família, dos meus amigos, do meu espaço, do meu berço e das minhas raízes, de tudo o que formou a mulher que sou hoje. O meu primeiro emprego, a minha primeira casa e o meu primeiro amor... Tudo em apenas 10 meses e 17 dias.

E agora aproxima-se mais uma experiência forte, dessas do crescimento. O regresso. Voltar a casa, a ver os meus, tudo que foi sempre meu e será sempre mesmo que eu esteja fora durante anos. No regresso tudo que é meu vai estar diferente e eu tenho que aceitar isso, porque a vida é mesmo assim, é transformação, é mudança, é andar para a frente. Afinal eu também mudei e tudo que é meu vou vê-lo com o olhar transformado, com a alma de quem andou por mundos diferentes e plantou lá também algumas raízes.

20 novembro 2007

Homens de lenço de mão



No outro dia estávamos eu, o meu paizinho Pedro e a Gi a discutir um assunto muito pertinente - o uso masculino do lenço de mão. E eu acho, sempre achei, que esse costume é um charme! Lembrei-me ainda que esta não foi a primeira vez que falei sobre o assunto, já numa altura discutido com as minhas "manas" vimaranenses.

Sim, este é um tema que divide opiniões. Há mulheres que acham isso um nojo e acreditam ser muito mais higiénico recorrer aos lenços de papel, que têm a desvantagem de serem mais poluentes. Outras, com as quais partilho a opinião, acham que um dos referentes mais bonitos que temos nas nossas concepções de princípe encantado (que todas as mulheres têm, mas como as opiniões e outras coisas que tais, cada uma tem a sua) é o uso do lenço de algodão. Nada mais sedutor que uma mulher a precisar de um lenço e o homem vislumbrar o seu, limpo e impecavelmente engomado, para facultar à menina precisada.

Quero assim deixar aqui a minha homenagem a todos os homens que ainda usam o seu lenço de mão, com a sua inicial bordada, de preferência à mão...

Festinha de Criança!!! Parabéns Ivany!

Sábado (17 de Novembro) aconteceu a festa de aniversário da Ivany (sobrinha e afilhada da Jacky, minha afilhada por afinidade;)). A festa foi muito fixe, também depois de tantos esforços para ela dedicados, por mim e pela Jacky, tinha mesmo que ser assim. Começou às 18horas e durou até às 20h para as crianças. Depois foi a vez dos adultos!!!!

Aqui fica o registo desse grande evento que aconteceu na Europa da Cidade da Praia - a bela, "movida" e sempre harmoniosa - Vila Nova!!!!



A princesa da Festa: Ivany, agora com os seus 6 aninhos!!



Duas das grandes mentoras da festa: eu e Jacky!



Sim, lá estive eu rodeada de pequenos rebentos dos outros. De um lado a actual aniversariante de 6 anos e do outro a futura aniversariante de quase um aninho!!



Eu e a Ritinha, a filhota da Elsa.



Cintia, a minha afilhada "moderna"! Ai, creeeedo!



Há crianças assim, que desafortunadas, têm madrinhas loucas que lhes ensinam aquilo que só deviam aprender depois dos 18 anos. Moralidades à parte, aqui está a Jacky a dançar esse clássico cabo-verdiano "Traaaaaa rabu!!".

O que não poderia deixar de assinalar foi o episódio mais rocambolesco que já vi nestas paragens. Um miúdo estava todo divertido lá na festa, até ter um ataque de epilepsia. Devidamente removido da sala de convívio, entre muitos olhares curiosos e vontades de ajudar lá puseram o rapaz na rua. E que fazer depois? Chamar um médico? Levá-lo ao hospital? Não! Veio o padre ou pastor, não sei, mas era sem dúvida um "macomungado" com o além que se pôs em cima do miúdo lá com umas rezas esquisitas pra ver se reanimava o rapaz. Isto enquanto o jovem continuava perdido de si. Entretanto, acordou e algém lá teve o bom senso de o levar ao hospital...

16 novembro 2007

Porque é sempre bom lembrar e nunca esquecer...

O que sentirá uma mãe que tem de deixar sozinhos os seus filhos pequenos quando sai de madrugada para o trabalho?

Por: Rui Marques, Alto Comissário para a Imigração e Diálogo Intercultural (Portugal)

O trágico acidente da semana passada, junto ao Terreiro do Paço, em Lisboa, em que morreram atropeladas duas mulheres e uma terceira ficou gravemente ferida, desocultou realidades que só longinquamente vamos percepcionando.

Filipa Lopes Semedo, de 57 anos, uma das vítimas mortais, imigrante são-tomense, mãe de dez filhos, havia saído da sua casa, do outro lado do rio, às 04h30, para apanhar o primeiro barco que todas as manhãs atravessa o Tejo, trazendo os primeiros trabalhadores para a cidade. Com ela viajavam outras mulheres africanas, de S. Tomé e Cabo Verde, que vêm cuidar das limpezas dos muitos escritórios de Lisboa.

Todas as vítimas atingidas por esta tragédia tinham esse elo de união: vinham trabalhar, ainda não tinha o dia despertado, para as limpezas dos nossos escritórios.

Com efeito, nós que começamos o dia mais tarde - e que às quatro e meia da manhã ainda estamos no nosso descanso - não temos consciência da dureza de algumas vidas, em busca de pão para a família. Entre os muitos - portugueses e imigrantes - que são heróicos protagonistas destas vidas difíceis, devemos hoje particularmente uma homenagem à coragem destas mães africanas.

Agarrando com as duas mãos qualquer emprego que lhes surja, ainda que não difira muito do circuito das limpezas ou da venda de peixe, estas mulheres, muitas delas também mães, enfrentam com uma coragem extraordinária o seu quotidiano. Rodeadas de obstáculos hostis, procuram - normalmente sozinhas - educar os seus filhos o melhor que podem, ainda que quase tudo se volte contra elas.

Basta imaginar o que sentirá uma mãe ao ter de deixar, todos os dias, os seus filhos pequenos entregues a si próprios ou a irmãos um pouco mais velhos porque à hora a que sai de sua casa não há creches abertas onde os possam deixar. E, quantas vezes, só regressam a casa depois do turno da tarde de limpezas, o que equivale a ver os filhos só à hora de jantar. São crianças que crescem sozinhas, na rua, como preço dos nossos escritórios limpos antes das oito da manhã e depois das seis da tarde.

Mas Filipa não morreu sozinha naquela manhã. Ao seu lado ficou Neuza, na juventude dos seus 18 anos, que atravessava a passadeira com a sua mãe naquele momento fatídico.

A história da mãe de Neuza é a de muitas mães-coragem que emigrando deixam os filhos no país de origem, à guarda da avó ou de algum familiar, sempre no sonho de um dia os poderem recuperar para junto de si. Juntam dinheiro, a partir de um magro salário, para conseguirem esse momento mágico de voltarem a juntar a família. Tinha sido essa a experiência da mãe de Neuza. Demorara quatro anos a juntar dinheiro para a passagem de avião da sua filha. Tinha conseguido trazê-la há seis meses para junto de si. Percebe-se, por isso, que após o atropelamento e apesar do seu estado muito grave, só gritasse o nome da sua filha. Nunca irá compreender porque morreu a sua filha Neuza naquela manhã. Ainda haverá coragem que resista a mais esta provação?

15 novembro 2007

Hoje sonhei contigo.




Hoje sonhei contigo. Foi um sonho tão bonito, daqueles que nos põem bem-dispostas logo pela manhã e nos deixam um sorriso nos lábios para o resto do dia. Mesmo apesar daquela sensação de perda que sentimos quando despertamos e vemos que afinal foi só um sonho... Mas não foi SÓ um sonho, valeu bem mais do que isso, porque apesar de não ser real, deu-me a esperança que um dia o venha a ser, por mais improvável que na realidade seja.

E assim ando desde a manhã de hoje, ando com uma sensação estranha de alegria, estranha porque vem de uma coisa muito pouco concreta, logo eu que adoro coisas "preto no branco", claras e precisas, defeito de profissão...

Estou feliz. Pelo meu sonho, por saber que ele é magnífico, mas ainda mais feliz por saber que a vida pode dar-me muito para além da imaginação!

14 novembro 2007

Histórias de Amor II - E o Patrick encontrou a “rapariga dos seus sonhos”



Just for the record... O Patrick conseguiu encontrar a "rapariga dos seus sonhos". O nome dela é Camille e esta é a foto do seu primeiro "date". Digam o que disseram, acontecimento fabricado ou não, não deixa de ser uma história bonita :)

08 novembro 2007

As Santiagos do mundo

A Tendinha de Santiago, quer passar por todas as cidades/localidadesm que lhe dão o nome. Aqui fica a lista dessas santiagos do mundo, por onde quero passar. Mais um sonho de vida. E porque adoro sonhar acordada, aqui estão as "minhas santiagos" e as "futuras minhas santiagos".

Argentina
Santiago del Estero - cidade argentina, capital da província do mesmo nome

Brasil
Santiago - município no Rio Grande do Sul

Chile
Santiago do Chile - capital do Chile

Cuba
Santiago de Cuba

Equador
Santiago de Guayaquil (conhecida apenas como "Guayaquil") - a maior cidade do Equador
Ilha de Santiago (Galápagos) - uma das ilhas do arquipélago das Galápagos

México
Santiago de Querétaro (formalmente, "Querétaro") - capital do estado mexicano de Querétaro

Panamá
Santiago de Veraguas

República Dominicana
Santiago de los Caballeros

Cabo Verde
Ilha de Santiago - uma das ilhas do arquipélago caboverdiano
Santiago Maior - freguesia no concelho de Santa Cruz, Cabo Verde


Espanha

Andaluzia
Santiago-Pontones, município na província de província de Jaén

Astúrias
Santiago, freguesia no concelho de Valdés
Santiago, freguesia no concelho de Sariego

Canárias
Santiago del Teide, município na província de Santa Cruz de Tenerife, ilha de Tenerife

Galiza
Santiago de Compostela - cidade capital da Galiza

Filipinas
Santiago, município em Agusan del Norte
Santiago, município em Ilocos Sur
Santiago, município em Isabela

Portugal
Santiago do Cacém - cidade e sede de município no distrito de Setúbal

Histórias de Amor II - Ajude o Patrick a encontrar “a rapariga dos seus sonhos”



"O que faria se descobrisse a rapariga dos seus sonhos no metro? Patrick Moberg, 21 anos, deu uso à suas aptidões para o "webdesign" e criou um site para a encontrar. O problema de Patrick será descobrir entre os 8,2 milhões habitantes de Nova Iorque a mulher que no último domingo viajava por volta das 21h30 na linha cinco do metro.

Como abordar uma desconhecida? Primeiro o contacto visual. Talvez um sorriso. Depois uma aproximação. A medo, perguntar o nome e um contacto. Ter uma conversa de ocasião. Com sorte, encontrar pontos em comum. Patrick quis pôr estas regras do manual universal de conquista em prática. Mas por ser “tímido e romântico” não foi capaz, confessou ao "New York Post".

Na última estação, Bowling Green, resolveu aproximar-se. Ainda tentou segui-la no meio da confusão. Mas a multidão envolveu-a e Patrick perdeu-a de vista numa esquina do subterrâneo de Nova Iorque. Para muitos que já foram atacados pela “paixão à primeira vista” seria o fim da conquista. Pensariam que dificilmente a voltariam a ver – ainda para mais na populosa Nova Iorque – e esqueceriam a fugaz atracção depois de uma noite de sono.

Mas Patrick não desistiu e publicou no site www.nygirlofmydreams.com/ um esboço da “rapariga dos seus sonhos”: cabelo castanho entrançado e com uma flor do lado esquerdo, maçãs do rosto coradas, calções de ginásio azuis por cima de collants da mesma cor e escrevendo num bloco. Ao lado o seu desenho, para o caso de a desconhecida ter sentido o mesmo durante o “muito sólido contacto visual” (segundo descrição de Patrick) entre os dois. No mesmo esboço, Patrick descreve-se como alto e magro, sublinhando que não está louco, mas sim “atraído pela rapariga”.

Desde segunda-feira, quando criou o site, o endereço de e-mail e o telefone de Patrick têm sido inundados com mensagens de apoio. A cadeia televisiva CNN já o contactou para uma entrevista. O seu patrão na Vimeo (que faz partilha de vídeos online) gravou uma declaração em que Patrick explica o que lhe aconteceu (http://laughingsquid.com/help-patrick-moberg-find-the-ny-girl-of-his-dreams).

Patrick, nascido na cidade de Nashville, estado do Tennessee, vive em Nova Iorque desde o Verão. Em três dias conseguiu os 15 minutos de fama que muitos procuram toda a vida. E tudo em nome da “química” sentida num transporte público. Patrick arriscou. Será que vai conseguir encontrar a jovem desconhecida? Por enquanto, garante que deixará o site a funcionar o máximo tempo possível. Até se conhecerem. Depois quem sabe..."

in Público.PT

06 novembro 2007

Histórias de Amor



Decidi começar a expor agora na minha Tendinha as histórias de amor que vou ouvindo por aí. Num mundo aparentemente cheio de desilusões e maus karmas, quero abrir aqui um espaço de optimismo. Para ler com um véu cor-de-rosa sobre os olhos. Se quiser, empresto-lhe o meu...

Com os joviais 20 anos de idade, um rapaz de olhos verdes e uma menina de olhos azuis conheceram-se, em meados dos anos 40. Ele era mecânico, ela costureira. Ambos viviam numa cidade alheia às guerras do mundo, eles próprios alheios a essas preocupações também, que só se reflectiam quando o preço dos bens essenciais aumentavam.

A vida corria ligeira, sem sobressaltos. Apaixonaram-se ao primeiro olhar, ao primeiro sorrison escondido à fiscalização dos pais. E, sem nada que os impedisse, condição social ou estatuto económico, casaram-se, tiveram 12 filhos numa pequena casa de três quartos, onde a comida nunca faltou e o amor preenchia tudo que a vida os privava. Ouviam discos do Zeca Afonso às escondidas, mas à noite não falhavam a oração quando rezavam o rosário do dia.

Esses doze filhos geraram 25 netos e dois bisnetos. Foram 53 anos em que um era o mundo do outro, com as complicações do dia-a-dia, mas uma vida simples, sem intrigas nem desconfianças. Até o dia em que essa menina morreu com 73 anos de idade. O rapaz faleceu dois anos mais tarde, sucumbiu às saudades do seu mundo, que os filhos e os netos não conseguiram compensar. Morreu, dizem, por amor. Esse rapaz era o meu avô Joaquim e a menina dos olhos azuis era a minha avó, Dores.

E aqui presto a minha simples, mas sentida de todo o coração, homenagem à mais bela história de amor que conheci.

"Mais vale tarde que nunca" e "O prometido é devido" - o meu paraíso na Praia

"Mais vale tarde que nunca" e "O prometido é devido" são os ditados que devem vir à cabeça de quem agora lê/vê este post. Pois é, quatro meses depois de estar na minha palhota número dois em Cabo Verdem vou publicar as tão ansiadas fotos da minha casa.

Eis o meu paraíso na Praia.



















PD em Cabo Verde III - Tarrafal

Claro que as nossas aventuras foram muito para além de Tarrafal, Maio e Cidade Velha. Mas são os registos possíveis de 20 dias inesquecíveis em Cabo Verde.



A aventura começa na Hiace, mas grande aventura mesmo!!



Paula com a famosa inscrição do Tarrafal ao fundo.



Sabi sabi na praia do Tarrafal.

PD em Cabo Verde II - Maio

A nossa ida ao Maio foi memorável. Não me lembro de me divertir tanto, ainda por cima com a pessoa que é como eu e gosta de aventura! Fim-de-semana atribulado mas muito sabi na Maio!!!



Nossa chegada a bordo de Barlavento, seguramente o pior barco do mundo.



Pelas ruas da ilha do Maio.





O nosso almoço, uma refeição comunitária. Dia di festa bedju!!!!! Aqui a PD delicia-se!!



Paula cumpre o sonho de uma vida: andar de carrinha de caixa aberta pelas estradas do Maio.



O fim-de-semana era de festa, 8 e 9 de Setembro, e a noite foi magnífica com muito funaná dos Ferro Gaita!!!



Aqui a PD está a descompensar e a tentar imitar uma cabo-verdiana a dançar de garrafa na cabeça, que não se aguentou mais de 2 segundos!!



Depois da noite do louco funaná, todos para a discoteca de 100 escudos de entrada - Esperança.



Na partida, PD bem-vinda ao Maio!!

PD em Cabo Verde I - Cidade Velha

A vinda da minha irmã a Cabo Verde foi uma verdadeira lufada de ar fresco na minha vida. Era, sem dúvida, a pessoa de quem mais desejava receber uma visita - dito e feito. Aqui estão as fotos da sua aventura crioula.



Paula no Pelourinha - a versão moderna da escrava Isaura. (Pelourinho, onde se fazia a troca de escravos)



Eu e PD na Cidade Velha, geminada com Guimarães, ambas berços de nacionalidade.



Paula na Baía da Cidade Velha, onde desembarcavam os grandes galiões do século XV e XVI.



No velho trapiche de grogue.



Paisagens verdejantes da Cidade Velha.



Paula no Grand Canyon cabo-verdiano.



Vitória de Guimarães também presente em Cabo Verde.

Fogo

Neste regresso das fotos das minhas viagens às montras da Tendinha, o primeiro destino é o Fogo, onde estive entre 23 e 26 de Agosto. Sei que a distância no tempo é longa, mas vale sempre recordar aquela que para mim é a ilha mais bonita de Cabo Verde (embora a minha preferida continue e a ser a "minha" Santiago).



A primeira vez que vi um vulcão. Ilha do Fogo, 2007.



Eu e a cratera maior e menor.



Eu com uma "rabidante" no mercado de São Filipe, principal concelho da ilha do Fogo.



São Filipe é uma cidade linda, mas abrasadora nesta época do ano. Olhando os sobrados, regressei a Portugal por uns dias.



Num almoço super fixe com os presidiários da Cadeia Regional do Fogo.



Uma criança da Chã das Caldeiras.



Mosteiros, um dos três concelhos da ilha: São Filipe, Mosteiros e Santa Catarina.

27 setembro 2007

Sei que A Tendinha merecia um post melhor!

Sei que A Tendinha merecia um post melhor, preciso de arranjar tempo para pôr esta coisa a funcionar outra vez. Actualizá-lo com a visita da minha irmã e com este Cabo Verde que ainda vou descobrindo. Quase dois meses passaram e há muito para contar, em bora quase tudo continue na mesma.

Tenho que colocar as fotos da minha casa (com a selva ainda mais frondosa devido às chuvas que têm caído), da ilha de Santiago com chuva, da minha visita à ilha do Fogo e ao Maio. Tantas coisas que estou a dever que vai ser preciso um esforço grande para a super actualização.

Enquanto a promessa fica no ar,venho só aqui dar o ar da minha graça e anunciar, que sim, que ainda estou viva!!Neste exacto momento devia estar a escrever uma notícia, exclusiva na semana, mas não sei como pegar naquilo. É um assunto sensível e eu sou ainda mais sensível para tanta sensibilidade.

Pensei, vou escrever algo para desabafar e porque não recorrer ao saudoso (de mim, claro) blog para divagar. Preciso de inspiração (e de orientação) para escrever e não sei onde a ir buscar. Às vezes tenho em mim uma ânsia tão grande para escrever, sinto tão cheia de ideias, mas sinceramente, mão sei onde é que foram parar hoje que preciso tanto delas. Se calhar decidiram fazer greve, para prostetar a minha preguiça de as pôr no papel.

Só digo asneiras e ainda nem estou em mim que são 13h50, de quinta-feira e eu ainda tenho que escrever a manchete de amanhã... Ai vida de jornalista!

29 agosto 2007

Hoje acordei pela primeira vez com o som da chuva

Pela primeira vez desde que estou em Cabo Verde (há sete meses e 20 dias) acordei com o som da chuva. Chuva que caía intensamente na Cidade da Praia. A minha primeira reacção foi querer ficar na cama o dia todo, vício tipicamente português. Mas depois decidi viver este meu primeiro dia de chuva à maneira cabo-verdiano e ir tomar um banho dessa benção dos céus.

Contrariei o corpo, saltei da cama e corri para o meu jardim (que estava muito mais bonito, com as suas cores mais brilhantes e as folhas mais viçosas). O meu banho de chuva que refrescou-me a alma e lavou-me as ideias.

17 agosto 2007

O que queria ser para ti

"Queria ser terra firme, a tua certeza, o teu bem mais importante. Queria que nunca tivesses desistido de mim como não desistimos nunca de comer, de respirar, a não ser quando desistimos de viver".

in Cânticos de uma velha, "Eileenístico", por Eileen Barbosa Almeida

Conta, peso e medida



Explica-me, por favor, como hei-de controlar este amor desregrado e indisciplinado que sinto por ti.

Diz-me, por favor, qual a conta dos meus beijos, qual o peso da minha atenção, qual a medida dos meus telefonemas.

Mostra-me, por favor, como hei-de gostar de ti sem te sufocar.

Esclarece-me, porque junto de ti sinto-me uma analfabeta de sentimentos, pois ainda não sei amar este amor que tenho por ti.

16 agosto 2007

Rabelados

No meio do mês de Julho fui visitar a comunidade dos Rabelados, em Espinho Branco, concelho da Calheta, ilha de Santiago. Foi uma experiência muito gratificante, é entrar noutra dimensão. Por isso, deixo aqui as fotos tiradas pelo meu amigo/colega de trabalho Belito e os textos que publiquei n'A Semana.

A nova era dos Rabelados

Por: Catarina Abreu

Entrar nos Rabelados é viver outra dimensão deste mundo cheio de mundos. Um mundo, onde impera a simplicidade, o “djunta mon” e o misticismo, revelou-se aos outros mundos através da sua expressão artística. Um dia rejeitaram o mundo guiado por regras com as quais não concordavam. Esse mundo também não quis saber e optou por ignorá-los. E assim foram vivendo de costas voltadas até que a aurora do século XXI despertou a nova era dos Rabelados e conciliou estes dois mundos.

Ao chegar ao primeiro funku, conhecemos Ney e Sabino, dois jovens que se sustentam a si e às suas famílias com a venda das telas. As casas di padja, onde nos recebem, são simples, assim como aquela que albergou o nascimento de Jesus e, por isso, optam por este tipo de habitação. A própria disposição do funku fomenta a vida comunitária que pauta o modus vivendi destas gentes: pequenos quartos rodeiam um espaço central onde se encontram e recebem quem vem de fora. Ao contrário do preconceito intrusado na sociedade cabo-verdiana, os Rabelados têm em si toda a morabeza crioula.

O tempo que estes jovens dedicam à pintura e à cerâmica é dividido com as tarefas da agricultura de sobrevivência e que não é suficiente para alimentar toda a população, estimada entre as 300 e as 350 pessoas. A próxima paragem é o atelier onde estão expostas as telas, as bolsas e até peças de mobiliário feitas pelas mãos da juventude da aldeia. Um amontoado de cores e formas invadem-nos a retina, num espaço alegre e de convívio entre todos.

Ali está também instalada a sala de massagens, da responsabilidade de uma rapariga da aldeia que usa a terapia de pedras de vulcão. Aliás, está aqui uma das potencialidades da comunidade dos Rabelados. Como durante anos não contactaram com a medicina moderna, tiveram que apurar técnicas ancestrais, daí que sejam mestres no uso das plantas medicinais, que utilizam segundo o calendário biodinâmico, e já exportam, por exemplo, comprimidos de babosa.

Subindo umas escadas, acedemos a uma esplanada em que as mesas são protegidas do Sol pela mesma padja com que fazem as suas casas e as paredes são revestidas por azulejos pintados e esculpidos com as mãos dos próprios Rabelados. Misá, a artista plástica que há dez anos trabalha em prol daquela comunidade e a quem se atribui a abertura das gentes de Rabu di Spinhu Branku à sociedade, explica-nos o próximo grande projecto para a aldeia. A aposta no ecoturismo afigura-se como uma actividade geradora de rendimento e que possibilita o auto-sustento dos Rabelados. A ideia é trazer turistas que vão viver como um deles: dormir nas suas camas, comer nas suas mesas e participar nos seus rituais. Poderão passear nas levadas das montanhas que cercam a aldeia e aprender nos ateliers de pintura e cerâmica minsitrados pelas próprias gentes da terra.

Voluntários na formação e que chegaram de várias partes do mundo, como França, Itália, Portugal, Senegal a até do Japão, passaram por essa “experiência piloto” de ecoturismo e, segundo nos contam alguns dos jovens que com eles conviveram, o resultado foi positivo. “Podemos aprender outras coisas, saber de outras culturas e eles também podem ajudar no sustento da comunidade”, comenta Sabino.

Essa abertura a outros mundos nota-se com iniciativas, como por exemplo, a realização da aldeia artesanal, em Agosto de 2005, onde qualquer um podia participar em ateliers de arte e de medicina tradicional, em concursos de desportos como “fundia”, “roda” e “tracatchupa” e provar os pratos da gastronomia típica. O lançamento do disco “Cânticos sagrados de Cabo Verde – A litania dos Rabelados”, também em 2005, deu a conhecer as ladainhas com que interpelam Deus, os santos e a Virgem Maria e Lhes pedem para que intercedam em seu favor.

Subindo pela aldeia, conhecemos uma anciã sentada na soleira da sua porta a fazer bonecas de pano. Jocosa, Misá comenta com ela: “Já começou a fazer os maridos, porque até agora só fazia mulheres com os seus filhos amarrados às costas!”. A mulher ri e mostra, vaidosa, a sua forma de arte, que também é o seu sustento.

Em frente ao funku da anciã das bonecas de pano, está o Centro Social de dez salas, a maior conquista dos Rabelados. Ali, funciona o jardim infantil, onde as crianças desenvolvem as suas actividades e têm formação. Na sala de costura, há panos por todo lado, que são “ratchados” e trançados para a tapeçaria e para as bolsas. É onde se confeccionam roupas, que um dia sonham em comercializar. Espalhadas pelo local, estão também as tchabetas das meninas que finalmente conseguiram formar o seu grupo de batucadeiras. Até há bem pouco tempo, as mulheres não podiam cantar nem dançar e “esta foi uma grande vitória”, conta Misá.

Longe vão os tempos em que objectos como câmaras fotográficas e televisores eram considerados obras do demónio. Na sala de televisão, há sessões agendadas duas a três vezes por semana e quem quer assistir paga 10 escudos para fazer funcionar o gerador de electricidade.

Outras pequenas grandes vitórias são os fornos para a cerâmica e para o pão que abastece toda a aldeia e que esta gente exibe com orgulho. A Organização Mundial de Saúde financiou as infra-estruturas básicas como unidades sanitárias e o sistema de aprovisionamento de água. Todas as semanas chega um camião e enche o tanque que fornece o precioso líquido a toda a aldeia.

Por todos os funkus por onde passamos, somos convidados a entrar, a sentar e a dar dois dedos de conversa num crioulo profundo que custa-me a entender. Fomos conhecer a casa de Kanhubai, que conseguiu comprar o seu terreno e erguer a sua “moradia” graças ao dinheiro que fez com a venda das suas telas.

O problema do tchon também já chegou aos Rabelados. Os terrenos que ocupam há décadas não são deles, nem do Estado, mas sim de privados. Manifestaram essa preocupação num encontro, em Fevereiro de 2007, com o Presidente da Assembleia Nacional, Aristides Lima. Durante uma visita à aldeia, José Maria Neves prometeu que vai adquirir esses terrenos para que possam construir livremente os seus funkus e continuarem com as plantações. Os Rabelados aguardam estoicamente o seu cumprimento.

A nossa última paragem é a casa de oração, resguardada pela bandeira do PAIGC. À porta está um senhor idoso, a quem pedimos a benção. Lá dentro está Tchetcho, o jovem chefe dos Rabelados, elevado ao cargo depois da morte do seu pai, Nhô Agostinho, em Novembro do ano passado. Nas mãos tem o que simplesmente chamam “O Livro”. Percorre com os dedos as páginas amareladas da Bíblia e o Lunário Perpétuo, que encerram em si os ensinamentos que guiam a vida dos Rabelados. São os documentos sagrados nos quais acreditam com devoção e que não questionam de forma nenhuma.

Tchetcho afirma-se fiel ao “Livro” e às tradições rabeladas mas defende que é legítimo a busca por uma vida melhor. A pobreza está na origem da partida de alguns Rabelados para a Praia, para outras ilhas e até para o estrangeiro. “Têm o direito de procurar uma vida melhor para as nossas famílias”, realça.

E as viragens de pensamento raramente trazem consensos, daí que a abertura à aldeia global traga polémica ao seio da comunidade. Mas chegou a altura de se romper com um ciclo centenário: primeiro revoltaram-se quando foram trazidos do continente africano para Cabo Verde, depois rebelaram-se contra o poder colonial português e agora chega a hora de terminar com a marginalização imposta pela actual sociedade cabo-verdiana.


Artigo de Opinião

O vil metal

Por: Catarina Abreu

Uma das premissas da comunidade dos Rabelados é a rejeição dos objectos de metal. Claro que com o passar dos tempos essa crença passou a ser apenas uma lembrança do passado, mas pelos vistos, ela ainda faz algum sentido.

Mas como dar razão à história e ensinamentos antigos é este metal (leia-se dinheiro) que volta, agora, trazido por consciências menos escrupulosas, para conspurcar uma obra digna, a de uma comunidade que numa revolução silenciosa conquista o seu espaço, para viver “dignamente” mas à sua maneira, o seu tempo. Enquanto uma pessoa “deu expediente” pelos Rabelados, para que tivessem acesso a condições básicas de vida como água e tratamento médico, ninguém disse nada. Todos calaram e consentiram o percurso de luta de Misá, composto por pequenas grandes vitórias e também por erros, característicos da condição humana.

Mas quando nas regras deste jogo entrou o dinheiro, esse vil metal tão essencial como maldito, a coisa mudou de figura e começa-se a assistir a um levantar de vozes contra quem durante mais de dez anos dedicou-se única e exclusivamente à defesa de uma causa, na qual acredita piamente.

Tudo começou com a Feira Internacional de Arte Contemporânea de Madrid – ARCO 2007, que se realizou em Fevereiro. Misá foi escolhida pela Arte InVisible para ser a comissária responsável pela participação de Cabo Verde no evento. Esta entidade faz parte da Agência de Cooperação Internacional, ligada ao Ministério de Assuntos Exteriores e de Cooperação espanhol, organizadora da Feira.

A escolha recaiu sobre Misá, depois de num primeiro momento, os espanhóis terem seleccionado Danny Spínola, que, na altura, tinha que apresentar alguns artistas plásticos contemporâneos para serem apresentados na Feira. Spínola levou nomes como Nelson Lobo, José Maria Barreto e da própria Misá. Só que a organização de Espanha, ao conhecer o trabalho dos Rabelados, interessou-se mais pelas telas desta comunidade, já que o objectivo, tal como afirma Cuca Guixeras, comissária geral do projecto Arte InVisible, era divulgar “os artistas contemporâneos que vivem e trabalham no seu país e que não têm oportunidade de mostrar a sua obra numa manifestação internacional”.

Seleccionados os Rabelados, Danny Spínola demarca-se da organização porque não queria ser comissário sem poder de decisão. Misá assume o posto e leva o trabalho das gentes de Rabu de Espinho Branco a Espanha. Depois da ida a Madrid, três rabelados de outra comunidade, do Bacio, juntamente com Nelson Lobo, Filipe Furtado, deputado da Calheta eleito pelo do MpD, e um jornalista do Expresso das Ilhas foram encontrar-se com o chefe. Ali tentaram convencê-lo de que Misá teria-se tentado aproveitar da comunidade para promover o seu nome e que se apropriou do dinheiro destinado a Tchetcho.

Numa visita a Espinho Branco, sabe-se a versão da história por aqueles que a viveram. É na remuneração de Misá como comissária - 9000 euros (990 contos), que descontados os impostos somava 6225 euros (684 contos) - e nas ajudas de custo – 200 euros (22 contos) - atribuídas a Tchetcho, que começa o grande celeuma que pôs aquela comunidade em alvoroço.

Na altura surgiram também acusações de que Misá teria uma conta em nome dos Rabelados, um endereço de e-mail e que a associação encabeçada pela artista – Abi djan – era uma forma de “disfarçar” as actividades desenvolvidas pelos Rabelados. O que a maior parte das pessoas não sabe é que a comunidade não pode ter uma associação oficialmente reconhecida porque estas pessoas não são registadas e nem nome têm. Uma simples declaração pedida ao banco pode esclarecer que não existe nenhuma conta em nome dos Rabelados. E que “rabelado” é um nome bastante utilizado nos endereços de e-mail em Cabo Verde.

As gentes dos Rabelados rejeitam estes ataques a Misá, ignorando-as até. Reafirmam aquilo que Nhô Agostinho, antigo chefe da comunidade, sempre defendeu: que “Misá é um anjo enviado por Deus”, mas sentem que “a sua recompensa só vai acontecer no céu”. Funku após funku, cada peça, cada novo equipamento, cada iniciativa tem a marca Misá. É o espírito que guia os Rabelados nesta “revolução silenciosa” que vão fazendo nas suas almas. Daí a alegria, o brilho no olhar, a felicidade que toma conta de anciães, jovens e crianças de cada vez que ela aparece. Afinal durante anos e anos os profetas da desgraça surgiram para ela, que foi considerada uma “lunática” por acreditar no desenvolvimento de uma comunidade que nunca foi “tida nem achada” em Cabo Verde.

Mas como o dinheiro é o vil metal, o seu tilintar tentou corromper os sonhos dos Rabelados, que sempre viveram à parte sem pedir nem exigir nada. Foram agitar um modo de vida que parou no tempo. Num truque da vida, os Rabelados também aguçaram o apetite da ganância dos votos, já que os Rabelados não votam, não têm partido e nem possuem cidadania. Como uma das anciãs afirmou: “Nôs partido é rabelado e nôs bandera é PAIGC”.



Olhar de uma menina Rabelada





Dois anciães da comunidade dos Rabelados



Estas pessoas juntaram-se a nós quando eu os entrevistava para o meu artigo.



Forno de cerâmica. Um dos meios de sustento dos Rabelados é a sua arte com a cerâmica.



As casas dos Rabelados são chamadas de "funkus". São revestidas de palha e muito fresquinhas!! As casa de banho são construídas à parte e parecem mini "funkinhos".



As mulheres nos Rabelados são mães muito jovens. Com cerca de 13, 14 anos juntam-se e têm filhos e as suas vidas, depois, são dedicados a eles.



Característica global em Cabo Verde é a beleza das mulheres. Aqui está um desses exemplares. Antes, as mulheres não podiam dançar nem cantar, mas agora até já têm um grupo de batuku!!



Quais playstations e televisões? Aqui as crianças brincam no meio da natureza, num ambiente bem mais saudável!!



Misá



Parteira que viu nascer todos os meninos da aldeia conta histórias de vida.



É com estas pintras que os Rabelados vão sobrevivendo e construindos os seus funkus. Tiveram formação na área da pintura mas tudo o que pintam vem da sua imaginação.



Tchetcho é o actual chefe dos Rabelados.