16 dezembro 2009

25 anos

Hoje completo 25 anos de VIDA. A ponta da caneta espera instruções de um cérebro, também ele, à procura de directrizes, de um rumo. À descoberta desta ansiosa Catarina dos sonhos (im)possíveis, próprios e para os outros.

Pensei enumerar uma lista de tudo o que quero, mas resolvi que se calhar não é muito boa ideia. Não vão lá as forças superiores achar que sou ingrata. Por isso, acho que hoje, quando morder a vela não vou desejar mas sim agradecer.

A lista de agradecimentos, essa, é enorme – qual discurso de actrizes histéricas em noite de óscares. Hoje quero principalmente agradecer por estar viva. E por ter uma família, composta por pai, mãe, irmã e irmão, que amo acima de tudo, maior que um sentimento, maior do que as palavras conseguem dizer.

Porque hoje completo 25 anos de VIDA permito-me todas as lamechiches, lugares-comuns e perdoo-me este tom egocêntrico do que escrevo.

Rodam na minha cabeça - como uma bobina de filme antigo onde em cada frame há um amigo - todos os amigos que me deram um pedacinho de si e assim me fui construindo e transformei-me neste jogo de legos que sou, com várias cores e formas.

Ah! este meu múltiplo ser que tanto me complica a vida. Sim, mas já entendi que descomplicando o complicado é como se é feliz.

Hoje queria de presente de aniversário um dia de verão, com um sol imponente no céu da minha cor, que nos faz semicerrar os olhos e ao vermos entre as pestanas, ficamos perante um mundo de circulozinhos de luz... Estão 6ºC e chuva. A vida também não é sempre como queremos que ela seja, pois é? Afinal temos que luta com as armas que temos, sem qualquer espécie de conformidade. Por isso, vou ali apanhar um pouco de chuva na cabeça, aproveito para descomplicar um bocadinho, e já volto!

06 dezembro 2009

A nossa Amália, o nosso Fado, a nossa Arte

Sabem aquelas alturas em que nos sentimos a explodir de orgulho? Neste sábado, 05, foi isso que me andou a fervilhar no peito com o concerto de Tributo a Amália. Orgulho por termos uma forma tão sublime de cantar sentimentos, por termos músicos talentosos e cheios de alma e por ver que temos o futuro da nossa música assegurado com fadistas como a Carminho e o Ricardo Ribeiro. Imagens belas ficaram neste meu baú: o "fado blues" do Rui Veloso, as lágrimas de viver a música, a presença do homem cuja música nos avisou da liberdade, uma casual Casa da Mariquinhas e o quadro vivo de uma deusa do fado.

Tributo por: Mariza, Paulo Carvalho, Rui Veloso, Carminho, Ricardo Ribeiro e Fragmentos.
(louvo igualmente os instrumentistas de guitarra portuguesa, viola e viola baixo, cujos nomes não fixei. Por isso, peço desculpa)

Nicolinas 2009


Foi uma edição fria e muito chuvosa. Este ano não fui uma resistente. Mas tradição é sempre tradição e a nossa é a melhor do mundo.

Onde está a luz?

À medida que o Outono se precipita para o Inverno vou vivendo cada vez mais de noite até que cheguei ao ponto de me sentir num breu completo. Acordo de noite e deito-me de noite. E durante o resto do dia – apesar de haver uma luz cinzenta – parece ser sempre noite. Por não haver luz, as pessoas também não têm luz. Só reflectem o nada. São anónimas e baças.

Eu também me sinto parte dessa massa compacta, alheia ao passar dos dias mascarados de noite. Vejo-me a mim igual à pessoa que vai à minha frente e à outra e à outra a seguir. Estou rodeada de espelhos que me reflectem e eu sou apenas mais um espelho que reflecte todos os outros. Todos iguais, ninguém diferente, agimos sempre sobre uma realidade automatizada que se desenrola segundo um procedimento pré-definido.


Porto/Guimarães, 02 de Dezembro de 2009

in: Os Diários no Comboio

17 novembro 2009

A Empresa

Trabalho na Empresa há duas semanas e dois dias. Todos os dias levanto-me às 6h45 se tiver que tomar banho de manhã ou às 7h se já tiver passado essa etapa na noite anterior. Visto-me com as roupas normais de mulher que trabalha na Empresa e passa o dia e os dias entre um monitor e uma cadeira: calças ou saia pelo joelho, botas de cano alto ou sapatos, blusa ou camisola de gola alta, roupas invariavelmente castanhas, pretas ou cinzentas, cabelo apanhado, base na cara para disfarçar as olheiras crónicas e o rímel para avolumar estas minhas curtas pestanas.

Depois preparo a marmita do dia: coloco o mini tupperware de sopa na lancheira azul, três peças de fruta, um pacote racionado de quatro bolachas de aveia e um iogurte de pêssego. Entretanto, já tirei do frigorífico o iogurte líquido para o meu pai que se levanta à hora certa para me levar à estação de comboio.

Ali, dirijo-me à bilheteira, digito o 825, pago os 2.15 euros e entro no comboio onde já reconheço as mesmas caras ensonadas de todos os dias. Uma hora e quarto depois – uma viagem ao som da TSF e das interferências, as 50 olhadelas em direcção ao placar electrónico para acompanhar o avanço no tempo e no espaço e umas sonecas que põem as minhas costas a clamar por socorro – saio do comboio e dirijo-me à Empresa.

Enfio o indicador no porteiro electrónico, empurro a porta pesada e dou o meu sempre bem-disposto “Bom dia!”. Os meus colegas dão-se beijinhos uns aos outros pela manhã mas eu, confesso, sinto-me bastante constrangida com essa coreografia estranha ausente de afectos. No início, os cerca de 50 trabalhadores daquela Empresa pareciam-me uma indistinta massa anónima que dava muitos beijinhos.

Sento-me na secretária, valido-me como uma legítima utilizadora de um sistema para o qual eu sou apenas um número. E começa o dia de labuta com duas paragens para café – uma de manhã e outra à tarde. A pausa maior é para o almoço, refeição que tomo também na Empresa.

Já noite regresso no mesmo comboio rodeada de caras menos frescas e olhares mais gastos – o dia passou e devo ter aproveitado no máximo 60 minutos de luz natural e é a altura em que uma vez ouvi alguém dizer algo que me avassalou por dentro: “Até já, vemo-nos dentro de umas horas”.

Chego a casa às 20h45 ou 21h45, conforme a duração da jornada. Fico junto da minha mãe a comer uma sanduíche e ouço o dia dela. Eventualmente, escrevo no blog e viajo por vidas mirabolantes com a novela da noite. E assim durmo.

No dia seguinte, a seguir e depois, o mesmo.

Quando era miúda nunca imaginei que fosse ter uma vida assim, normal. Há cenários que realmente não nos passam pela cabeça quando somos pequenos – nem como melhores, nem como piores hipóteses. Eu tinha pensado em tudo para mim, menos esta vida.

Que não se leia nesta descrição tons de queixa. Hoje esta vida normal que tenho é o que eu escolhi. É que as vidas exóticas são um engodo e dão muito mais trabalho do que se imagina, principalmente quando somos pequenos.


Porto/Guimarães, 17 de Novembro de 2009

in: Os Diários no Comboio

16 novembro 2009

Mayra Andrade - O início e o fim

Pressionando minusculamente uns botõezinhos do meu mp3, hoje lá consegui configurar este isqueiro rosa fucsia, que podia dar lume mas que dá música, a reproduzir wma (sendo que é tudo uma questão de tempo até algum chinês se lembrar da utilidade desta integração e qualquer dia tenho um mp3 que dá música e… lume).

Os dois álbuns que tenho em wma são da Mayra Andrade. E revelou-se-me: há quase três anos foi com o primeiro disco da Mayra que fui aprendendo as minhas primeiras palavras em crioulo (usava a metodologia de atentar às letras para saber a língua). Com o primeiro álbum fui navega(ndo) nas palavras, nas expressões, nas conjugações verbais. Lá aprendi o que quer dizer “Lapidu na bo”e como se cantam hinos à Lua para “lumia(r) nha corpo ku caima”. Foi a banda sonora dos meus primeiros dias e daquele chorrilho de descobertas, aprendizagens e emoções confusas mas tão, tão bonitas!
Dois anos e meio depois, fechava-se o ciclo: já aprendido o crioulo, já o funáná dançado, já o grogue bebido e já um país descoberto. A poucos dias do voo da TAP que me raptaria/salvaria do que foi Cabo Verde, ofereceram-me o segundo álbum da Mayra. E nos meses seguintes ao regresso desejado/forçado foi banda sonora de uma saudade quase física, quase palpável, do desmame daquela que foi a minha terra mãe adoptiva com quem tive uma intempestiva relação de amor/ódio.

O início:
“Bo seiva invadim nha coraçon
Sem limite
Ai! Si n pudesse beber un cálice di bo melodia
Bo feitice ta infeitiçam
Bo praga ta maldiçoam
Bo seca ta secam na peito
Ma mesmo assim djam kre bu morna”
(Regasu, 2006)

E o fim:
“Rainha na desamparo
Nsta djobi caminho
Ku spada i força di sodadi i dor
Ku alma livre na tempu
Nkre vivi ku odjus fitchadu
Pam teneu djuntu ku mi, ku mi…”
(Odjus fitchadu, 2009)
Porto/Guimarães, 16 de Novembro de 2009
in: Os Diários no Comboio

Caridades sazonais

“Dão-te um pedaço de pão como se dessem uma nota de mil, e acabando de o dar imaginam que têm abertas as portas do Paraíso. Pensa bem, que motivo os leva a fingir que são generosos? É para se porem em paz com a sua consciência, apenas para isso, meu pequeno. Atiram-te uma côdea e assim já não se envergonham de comer. É apenas por isso, não penses que é por terem pena de ti. O tipo que come de modo a saciar toda a fome é um selvagem e nunca tem pena do que tem a barriga vazia. O saciado e o faminto serão sempre inimigos, olharão sempre um pra o outro como cães prontos a engalfinharem-se. Não há possibilidade de se comoverem e de procurarem entender-se…”

in: "O avô Arkhip e Lionka", de Máximo Gorki (1868-1936)

Guimarães/Porto, 13 de Novembro de 2009

in: Os Diários no Comboio

11 novembro 2009

Mãe – Hoje não há adivinhações!

Hoje não me consigo perder em nenhuma história ou concentrar-me em qualquer expressão. Hoje quis que o dia passasse depressa e só penso na minha mãe. Penso no cheiro da minha mãe, no riso da minha mãe, nas mãos trabalhadas da minha mãe, nos olhos verdes da minha mãe, no narizito engraçado da minha mãe, na dedicação da minha mãe, do comprometimento incondicional da minha mãe, na nobreza da minha mãe, na sinceridade da minha mãe, na beleza da minha mãe e em todo este imensurável amor que tenho por ela.

Guimarães/Porto, 11 de Novembro de 2009

in: Os Diários no Comboio

A Manga

Nada o desconcentra daquela manga tão sumarenta. O rebuliço do comboio e os encontrões das pessoas na busca de um lugar sentado não o perturbam.

Corta minuciosamente aquela manga, com uma concentração incomum, arregalando os olhos à medida que a descasca com cálculos milimétricos. Péla a manga cirurgicamente com um canivete, começa por fazer um corte a direito, um perpendicular e outro paralelo ao primeiro. Conclui a operação e forma então um cubo que arranca e delicia como se fosse de todos os manjares o maior. Vai fazendo linhas de três cubos cada. Parece-me que a manga está no ponto ideal, nem um dia a mais, nem um dia a menos – a casca é intermitentemente verde e vermelha, por dentro é amarela madura com cada fiapo a formar uma goma compacta doce. De golpe em golpe, um cubo, dois cubos, três cubos, chega ao caroço estropiado e - finalmente - suga-o para evitar qualquer desperdício.

Nelson traz um saco plástico que deduzo ser da Ajuda Alimentar. É muito alto e encorpado, apesar de ser magro. Tem uma cabeça desproporcional ao corpo. Cabelo ralo e fino, barba por fazer, um rosto sulcado de ossos cobertos por uma fina película de pele baça. Os olhos são enormes, imensos e profundamente aterrados em duas camadas de olheiras pretas. Estão sempre muito abertos como se com eles quisesse consumir o mundo todo.

No outro saco plástico tem quatro velhas e lidas e relidas revistas cor-de-rosa negro que lê com a mesma atenção que lhe mereceu a manga. Podia ser mais um qualquer arrumador de carros que circula nos suburbanos do Porto à socapa dos revisores. Mas ninguém poderia ficar indiferente à forma de comer aquela manga. Até eu que nem gosto de manga, me deu vontade de comer uma!


Guimarães/Porto, 10 de Novembro de 2009

in: Os Diários no Comboio

Exercícios de adivinhação

Alguma vez, numa das muito rotineiras viagens de transportes públicos, se perderam em pensamentos sobre uma ou outra pessoa que vai à sua frente? Deram-lhe um nome, adivinharam-lhe a idade, imaginaram-lhe uma história? Eu sim. Faço-o constantemente. Não consigo controlar-me e quando me apercebo já estou a traçar um passado e um futuro a alguém que sobressai na massa anónima que todos os dias circula no meu comboio.

Guimarães/Porto, 09 de Novembro de 2009

in:Os Diários no Comboio

09 novembro 2009

Retrospectiva existencial

"Eu tenho 4 anos. Depois tive três, depois dois e depois um ano. Depois acho que não tinha nada. Não era nada."

Cristiana, menina de quatro anos, viagem Porto/Ermesinde, aos 09.11.2009

08 novembro 2009

Back to my teen age

Quase nos 25 anos, ando a passar a fase do "estou-a-aperceber-me-que-os-anos-passam-e-não-vamos-ser-jovens-para-sempre". Porque quando somos jovens parece que acreditamos a sério que esta condição é eterna.
Durante o concerto dos Skunk Anansie (04.11.2009, Coliseu do Porto) recordei-me que era a banda que ouvia há dez anos atrás, quando a minha mãe me começou a deixar sair à noite para assistir aos concertos da Ana, que cantava, preferencialmente, Skunk Anansie. Há dez anos atrás, em que berrava a "Brazen Weep", enquanto fazia as limpezas de sábado à tarde. Pensei o que seria ter assistido a este concerto há dez anos atrás... e o que foi assisti-lo agora, que já não preciso da autorização da mãezinha para sair até à meia-noite, nem limpo a casa aos sábados. O concerto, parte da tour apropriadamente intitulada "Greatest Hits", pareceu quase coisa do destino a fazer o jeitinho à Catarina que anda com tantos ataques saudosistas.
*Foto in Blitz online

01 novembro 2009

Revolucionemos!


Eu sugiro que nos inspiremos na força e inteligência destes três senhores e REVOLUCIONEMOS!

É bom acreditar num novo amanhã. E ser idealista. E ser insatisfeito. Eternamente.


O Primeiro Dia, por Sérgio Godinho

A principio é simples, anda-se sózinho
passa-se nas ruas bem devagarinho
está-se bem no silêncio e no borborinho
bebe-se as certezas num copo de vinho
e vem-nos à memória uma frase batida:
"Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida."

Pouco a pouco o passo faz-se vagabundo
dá-se a volta ao medo, dá-se a volta ao mundo
diz-se do passado, que está moribundo
bebe-se o alento num copo sem fundo
e vem-nos à memória uma frase batida:
"Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida."

E é então que, amigos, nos oferecem leito
entra-se cansado e sai-se refeito
luta-se por tudo o que se leva a peito
bebe-se, come-se e alguém nos diz: bom proveito
e vem-nos à memória uma frase batida:
"Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida."

Depois vêm cansaços e o corpo fraqueja
olha-se para dentro e já pouco sobeja
pede-se o descanso, por curto que seja
apagam-se dúvidas num mar de cerveja
e vem-nos à memória uma frase batida:
"Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida."

Enfim duma escolha faz-se um desafio
enfrenta-se a vida de fio a pavio
navega-se sem mar, sem vela ou navio
bebe-se a coragem até dum copo vazio
e vem-nos à memória uma frase batida:
"Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida."

E entretanto o tempo fez cinza da brasa
e outra maré cheia virá da maré vazia
nasce um novo dia e no braço outra asa
brinda-se aos amores com o vinho da casa
e vem-nos à memória uma frase batida:
"Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida."


O Charlatão, por José Mário Branco

Numa rua de má fama
faz negócio um charlatão
vende perfumes de lama, anéis d'ouro a um tostão
enriquece o charlatão

No beco mal afamado
as mulheres não têm marido
um está preso, outro é soldado
um está morto e outro f'rido
e outro em França anda perdido

É entrar, senhorias
a ver o que cá se lavra
sete ratos, três enguias
uma cabra abracadabra

Na ruela de má fama
o charlatão vive à larga
chegam-lhe toda a semana
em camionetas de carga
rezas doces, paga amarga

No beco dos mal-fadados
os catraios passam fome
têm os dentes enterrados
no pão que ninguém mais come
os catraios passam fome

É entrar, senhorias
a ver o que cá se lavra
sete ratos, três enguias
uma cabra abracadabra

Na travessa dos defuntos
charlatões e charlatonas
discutem dos seus assuntos
repartem-s'em quatro zonas
instalados em poltronas
Pr'á rua saem toupeiras
entra o frio nos buracos
dorme a gente nas soleiras
das casas feitas em cacos
em troca d'alguns patacos

É entrar, senhorias
a ver o que cá se lavras
ete ratos, três enguias
uma cabra abracadabra

Entre a rua e o país
vai o passo dum anão
vai o rei que ninguém quis
vai o tiro dum canhão
e o trono é do charlatão

É entrar, senhorias
a ver o que cá se lavra
sete ratos, três enguias
uma cabra abracadabra
É entrar, senhorias
É entrar, senhorias
É entrar, senhorias


Rosalinda, por Fausto

Rosalinda se tu fores à praia
se tu fores ver o mar
cuidado não te descaia
o teu pé de catraia em óleo sujo à beira-mar

a branca areia de ontem
está cheiinha de alcatrão
as dunas de vento batidas
são de plástico e carvão
e cheiram mal como avenidas
vieram para aqui fugidas
a lama, a putrefacção
as aves já voam feridas
e outras caem ao chão

Mas na verdade Rosalinda
nas fábricas que ali vês
o operário respira ainda envenenado
a desmaiar o que mais há desta aridez
pois os que mandam no mundo só vivem
querendo ganhar mesmo matando a
quele que morrendo vive a trabalhar
Tem cuidado...

Rosalinda se tu fores à praia
se tu fores ver o mar
cuidado não te descaia
o teu pé de catraia em óleo sujo à beira-mar

Em Ferrel lá p´ra Peniche
vão fazer uma central
que para alguns é nuclear
mas para muitos é mortal
os peixes hão-de vir à mão
um doente outro sem vida
não tem vida o pescador
morre o sável e o salmão
isto é civilização, assim falou um senhor
Tem cuidado...

Alterações Climáticas II

Hoje, 1 de Novembro de 2009, eu vesti umas calças de ganga e uma t-shirt. Nos pés, umas sapatilhas de lona.

* Num feriado em que, há uns dez anos atrás, eu ia agasalhada até aos dentes fazer as visitas no cemitério.

27 outubro 2009

Amor do século XXI

"Ontem falaram de uns senhores na televisão que têm assim tipo uma imobiliária de namoros. Uma pessoa vai lá, paga 3 mil euros e fica com um namorado. E está provado que estas coisas têm tudo a ver com aquilo das hormonas, que no homem é a "testa-não-sei-quê" e na mulher é o "estró"... oh não sei dizer a palavra. Mas pronto o cérebro dos dois é diferente. Vês? Isto não é nada como antigamente."

27/10/09. Senhora acima dos seus 65 anos, sobre as agências matrimoniais e as reacções químicas provocadas pelo amor. Durante um pequeno-almoço, em Guimarães.

22 outubro 2009

Pilates I


Nós nascemos, aprendemos a respirar, a andar, a sentar e a comer. Uns anos depois, descobrimos que, afinal, aquilo que aprendemos estava tudo errado. E, pronto, para vivermos mais uns anos, lá temos que voltar a aprender a respirar, a andar, a sentar e a comer. Crescemos a descobrir como é que a vida se vai complicando – em proporcionalidade directa com os anos creditados no Bilhete de Identidade – e a luta diária reside em simplificar e desconstruir tudo… como se fossemos crianças.


12 outubro 2009

Alterações Climáticas

"Olhe que na semana passada vendíamos galochas e esta semana já nos perguntaram se ainda tínhamos chinelos de dedo."

Funcionário de uma sapataria na Rua Gil Vicente. Aos 12.10.2009, em Guimarães, 21 dias depois de ter começado o Outono. Céu limpo, 27ºC.

07 outubro 2009

Hipocrisia

Revolta-me aquelas pessoas que andam por aí a propalar a paz, o amor, o respeito pelo próximo, a tolerância para com quem deles discorda, a harmonia do universo e que depois manipulam os outros consoante os seus humores, que jogam com os sentimentos de quem as ama, qual consola que tanto criticam. São cruéis, alimentam depressões e padecem do pior tipo de hipocrisia: a dissimulada por entre sorrisos e conversas bonitas de energia positiva. Melhor os cabrões às claras, que são menos maquiavélicos e, ao menos desses, sabe-se o que esperar.

*Foto in soprandoventos.blogspot.com

03 outubro 2009

A caminho de casa

(22h06) O ex-combatente em Angola que me queria conquistar com uma conversa viciosa e um cheiro fétido a álcool que lhe correu solto durante a vida. Tento ignora-lhe a história e os avanços palavrosos. Mas não consigo. Levanto-me e mudo-me para o outro lado da praça.

(23h01) Preciso de me aquecer. Preciso de chocolate. E preciso de ir à casa-de-banho. Vou até ao 120, um dos bares da praça, dessas tantas vezes repetida por esse país fora. O dono, ao ver que eu podia ser um cliente em potência pelas três marcas de chocolates diferentes que comprei, tentou persuadir-me a comprar uma barra alimentícia, que – milagre! – substitui uma refeição completa. “Veja, menina, tem vitaminas, proteínas, tudo que precisa para almoçar.” “Ora muito bem”, respondi eu, “E tem vendido?”. “Oh, menina, trouxe isto ontem de Lisboa e olhe, já está quase no fim!”. “Que bom! Posso usar a casa-de-banho, por favor?”.

(00h53) O casal que seguia o mesmo caminho que eu, foi o meu “segurança” durante a hora e vinte que durou a minha espera na rodoviária, no centro de uma avenida deserta. Ela, toda vestida de ganga da mesma cor: uma saia até ao joelho e uma jaqueta cintada. Óculos de massa castanhos, cabelo curto, fino e preto, argolas médias de ouro, sandálias à missionária. Não anda com a casa atrás dela, qual caracol: uma carteira, uma lancheira e um mapa das estradas de Portugal espetadito de um bolso. A bagagem parece ter sido arrumada só com o necessário: sem o esforço titânico do “ora, enfia isto neste espacinho” e a hercúlea prova final de apertar o fecho. O homem cheira a cerveja e parece um tipo bem disposto. Tem este ar arrumadinho graças aos cuidados de carinho dela. Usa sapatos de vela castanhos, calças de ganga, sweat-shirt cinzenta. Apesar de não ser gordo, tem um duplo queixo bem decalcado.

Olhando para eles, imagino que ela tenha sido uma freira e ele, com certeza, seria o padeiro que distribuía o pão no convento. Um dia apaixonaram-se. E o resto é o que se vê. Hoje trocam olhares cúmplices e micro gestos de ternura, enquanto esperam pela camioneta das duas da manhã.

Catarina dixit.

Amo Cabo Verde. Eu VIVI Cabo Verde (Sim! VIVI com maiúsculas, com tudo de óptimo e péssimo que isso implica) e ainda o VIVO de longe. Por isso, tenho o pleno direito de emitir todas as opiniões que eu achar pertinentes ou - simplesmente - mandar os bitaites que me apetecer!

Se não gostam, nhos bai tchupa limon!

02 outubro 2009

Os extra-terrestres humanos

Foi com muita reticência que assisti a este filme. O nome – District 9 - e o ‘trailer’, que anunciava um filme com efeitos especiais vários e avançadíssimos (um deleite para os apreciadores do género) e ‘aliens’ verdes a espirrar líquidos pretos, em nada me apelavam. Ok, o som, a super-produção que está por trás e as cabecinhas todas que pensaram o filme merecem todo o meu respeito e valor, mas ele não é, simplesmente, “a minha praia”.

Mas, enfim, convidaram-me para ir ao cinema e eu fui. Afinal, também já me tinham lançado o ‘bichinho’ sobre o filme quando alguns amigos meus comentaram comigo toda a estranheza que sentiram ao vê-lo, sem saberem lá muito bem se gostaram ou não. Então decidi tirar dúvidas.

A verdade é que me abstraí totalmente da parte da ficção científica e dos efeitos especiais (que em alguns filmes, confesso, chegam a roçar, em mim, a irritação) e vi ali uma história com um cariz social muito forte. É que os ‘aliens’ do District 9 são bastante humanos. Mais humanos que os próprios humanos.

No filme, a raça humana faz aquilo que a mais caracteriza ao longo dos séculos: maltratar aquilo que para ela é estranho. O que está aqui representado é o ímpeto destrutivo do ser humano. Foi a primeira vez na minha vida que vi a eterna dicotomia ficcional humano vs. ‘aliens’ trocada: os humanos eram os vilões e os ‘aliens’ os bons da fita (vá, mais ou menos bonzinhos…). Aqueles seres grandes, verdes e viscosos - apesar do aspecto repulsivo que tinham - eram quem suscitava no espectador empatia, eram a “facção” do filme para quem eu torcia que tudo desse certo!

De uma forma completamente surrealista (mas não creio que na eventualidade de acontecer um fenómeno destes, os acontecimento relatados no filme fossam irreais), os ‘aliens’ aterram na cidade de Joanesburgo, na África do Sul, e são alvo de um ‘apharteid’. Tal como aconteceu durante décadas naquele país, assiste-se a uma separação de raças, mas desta feita entre humanos e ‘aliens’: há os parques infantis para crianças e os ‘baby aliens’, há as casas de banho para humanos e ‘aliens’ e por aí adiante…

Outra coisa que dá grande força ao filme é o estilo documentário com que foi gravado, o que faz o espectador abstrair-se ainda mais dos tais efeitos especiais megalómanos, da enorme nave mãe cinzenta e taciturna, do sangue a esguichar e cabeças a explodir… Os ‘ghettos’ surreais dos ‘aliens’ são semelhantes aos ‘ghettos’ que hoje vemos pelos subúrbios de uma qualquer grande metrópole.

E depois do District 9 – uma versão alienígena dos campos de refugiados do Darfur, com a mesma violência, incúria das autoridades internacionais e corporativas e flagelos sociais como o tráfico de armas e mulheres -, surge o District 10. A fictícia MNU (cujos oficiais andam em blindados brancos e usam bonés azuis bebé, bem ao estilo de uma bem realista mega organização internacional) constrói o 10, na esperança de controlar a “praga”. De 1,8 milhões de ‘aliens’ que habitam no district 9, no 10, eles já são 2,5 milhões… “So much” para o controlo da propagação da espécie.
Saí do cinema e vim a matutar no filme pelo caminho. Hoje, quando acordei, foi uma das coisas em que pensei. E neste momento motiva-me a escrever sobre ele para o blog. Poucos filmes têm este efeito em mim. Por isso, valeu a pena e “toma lá p’ra aprenderes, Ana Catarina”, a ver se pr’a próxima não negas à partida um filme que não conheces!

Estranho

"People are strange

When you're a stranger

People seem ugly

When you're alone"

Jim Morrison

* Andava aqui a pensar em algo que descrevesse estes meus últimos dias e esta estrofe foi a única coisa que me ocorreu.

01 outubro 2009

Saudades da minha menineza

Hoje tenho saudades dos meus meninos e meninas, dos quais acompanhei a gravidez e o crescimento de perto (mesmo às vezes estando longe). Tenho saudades deles porque são a minha esperança num mundo melhor e mais bonito. Porque desde que soube das suas existências, desde que eram apenas um desejo das suas mamis ou quando provocaram a surpresa da vida delas, eu estava lá. E sonhei com eles e sonhei por eles.

Rodrigo & Ritinha, a minha Luna, Diego, Bá, Santiago e Francisquinho, hoje, tudo o que queria era ver o vosso sorriso!

21 setembro 2009

Distâncias & Amizades

Porque a distância é apenas um lapso no tempo e no espaço. Sobre isso prevalecem sempre, inalteráveis, o carinho e a amizade.


Pi em Guimarães, a 18.09.09

17 setembro 2009

Eu nem sei dizer...

Epifania, decisão de voltar para o colo de casa. Um mês de despedida, de hora di bai, de sugar energias, de paródia 'bedju', de mega festa do adeus, de até já no aeroporto, de não acreditar que no dia seguinte já não iria estar fisicamente com os especiais. Mudança de mundo, retornar às raízes, respirar. Raciocínio, muito pensamento, organizar o que está por dentro, estabelecer prioridades. A mega festa da chegada, as comemorações dos 900 anos de D. Afonso Henriques, a cidade da média-luz, ir à praia com os pais, almoçar diariamente com a família, as Gualterianas, o reflexo prateado do Sol no rio Douro, os planos, a campanha eleitoral, a Festa da Avante!, a busca por um trabalho, por um rumo...

São tantas as coisas que eu queria mostrar aqui no meu escaparate. Mas ainda não consigo. É tanto, que eu nem sei dizer...

Avante! É mesmo verdade, não há Festa como esta.


Fotos de Avante! 2009

A Tendinha Reinvented

Foram quatro meses e cinco dias de ausência da minha Tendinha. Do meu escaparate para o mundo. Os últimos tempos simplesmente não foram para me mostrar. Mas eu e a minha Tendinha estamos de volta e olhando para este interregno, muito mudou. A Tendinha mudou-se de Cabo Verde para Guimarães, transferiu-se da "garraiada" mundana para um "colinho" confortável e protector.
Aqui, nesta Tendinha também se é feliz, muito feliz. A Tendinha agora - ao contrário do que aconteceu quando foi criada e servia para mostrar as novidades do mundo onde se tinha fixado - anda a redescobrir os segredos que, afinal, soube a vida toda.

E porque a Tendinha mudou de pousio, muda também de aspecto. Porque quando se renova é incontornável que as mudanças interiores se reflictam no exterior. É a Tendinha reinvented...

Foto: Bruno Silva em Olhares.com

11 maio 2009

A nossa Santiago

Parque em Santiago de Compostela baptizado com o nome de Zeca Afonso


Uma centena de pessoas participou hoje no "baptizado" de um parque em Santiago de Compostela com o nome de Zeca Afonso, numa homenagem marcada pela emoção e pelas críticas à "pouca atenção" que Portugal dedica ao cantor.

O momento de maior emoção aconteceu quando todos os presentes, onde se incluía a viúva do cantor, Zélia Afonso, cantaram, em galego e em português, "Grândola, Vila Morena".No final, e com os olhos a brilhar de emoção, Zélia Afonso confessou-se sem palavras para descrever o que sentia naquele momento. "Não sei dizer, não sei dizer", referiu apenas, depois de alguns momentos de silêncio.

A homenagem de hoje foi promovida por um grupo de admiradores de Zeca Afonso, no dia em que se assinalam 37 anos de um concerto que o cantor português deu em Santiago de Compostela e em que marcou a estreia de "Grândola, Vila Morena". O Parque José (Zeca) Afonso situa-se a poucos metros do local onde decorreu esse histórico concerto.

Admirador de Zeca Afonso, José Israel deslocou-se propositadamente de Aveiro, com mais três amigos, para assistir a esta homenagem. Empunhava um cartaz com a imagem do cantor de um lado e, no outro, os dizeres "Zeca Afonso, orgulho de Portugal e do mundo". "Basta ouvi-lo para me sentir bem. É fabuloso", referiu José Israel, para imediatamente criticar a "falta deste tipo de coisas" em Portugal. "Em Portugal, não se dá a devida atenção ao Zeca, devia-se fazer mais pelo Zeca em Portugal", atirava.

Uma crítica partilhada pelo director da Companhia de Dança de Lisboa, José Manuel Oliveira, que apontou o dedo à televisão portuguesa. "Zeca Afonso foi um dos maiores trovadores do mundo, mas é muito maltratado em Portugal. A televisão portuguesa, por exemplo, cinicamente, passa no 25 de Abril, às duas da manhã, uns documentários sobre Zeca Afonso, que já foram vistos várias vezes, só para não se dizer que não fez nada", referiu.

A homenagem contou também com a presença do mágico Luís de Matos, que realçou a "magia" que emana da obra de Zeca Afonso. Manuel Lopes, natural da Galiza e também "fã incondicional" do autor de "Grândola, Vila Morena", referiu-se a Zeca Afonso como "um cantor galego, assumido por uma boa parte da população da Galiza".

Também da Galiza e um dos mentores desta homenagem, Arturo Reguera sublinhou que Zeca Afonso "é muito conhecido na Galiza", pelo que, quando em 2006 se avançou com a proposta de atribuição do nome do cantor a um espaço público de Santiago de Compostela, "todo o mundo concordou". Quem concordou "imediatamente" foi o alcaide de Santiago de Compostela, Xosé Sanchez Bugallo, ou não tivesse sido ele próprio um dos organizadores do concerto de Zeca Afonso, em 1972, naquela cidade. Hoje, Sanchez Bugallo cantou "Grândola, Vila Morena", de braço dado com a viúva de Zeca Afonso e, no final, não escondeu a emoção que sentiu.

"De repente, senti-me regressar há quase 40 anos atrás, quando, numa altura em que em Espanha se viviam tempos difíceis, de ditadura, Zeca Afonso aqui cantou aquela canção que apenas dois anos mais tarde se haveria de tornar símbolo da revolução dos cravos em Portugal", referiu.

in: Lusa

*Foto: O meu 25 de Abril mais intensamente vivido.

07 maio 2009

Movimento “Não julguemos ninguém”!

A mulher que ama e, depois de deixada – e até humilhada –, continua a amar

A mulher que é traída e mesmo assim continua a aceitar

A mulher que luta entre duas almas

A mulher que inventa desculpas para ela própria

A mulher que depende mas não admite e a que depende e admite

A mulher que ama demais, mais do que a ela própria

A mulher que é fraca, que não encontra a força de vontade

A mulher que não se liberta dos ciclos viciosos em que está inserida

A mulher que é agredida e cala

A mulher que trai e não resiste

A mulher que precisa de refúgios em braços incompreensíveis

A mulher que sente e não consente…



Muitas destas situações acontecem, não as entendemos em toda a sua dimensão e mesmo assim dizemos as nossas sábias opiniões, os nossos julgamentos, os nossos “se fosse a mim…”. É tão fácil, porque afinal não é connosco! Vamos parar de julgar, olhar para dentro, a nossa podridão. Dar força e não palpites…

16 abril 2009

He who forgets, will be destined to remember...

Pearl Jam, Nothingman

Lobbies

Há-os em todo o lado, eu sei. São transversais a todas as esferas da sociedade, em todas as actividades económicas de um país, em todas as relações no mundo. Mas há um lobby que sempre me irritou solenemente. Não sei porquê, não me perguntem porquê. Talvez porque mexa com aquilo que é mais essencial na vida de um ser humano – a sua saúde. Vai daí essas notícias que me têm chegado sobre a guerrinha entre médicos e Associação Nacional de Farmácias andam a fazer-me espécie.

Primeiro vem a ANF dizer que autoriza os farmacêuticos a trocarem os medicamentos prescritos pelos médicos por um genérico, mesmo que lá não venha o avisozinho de que tal substituição está autorizada. Depois vem a Ordem dos Médicos, lá do alto da sua sabedoria de senhores doutores, donos e guardiões de um negócio elitista e bem muralhado, como é o da saúde dizer: “Eh lá! Mas que vem a ser isto? Alguém a desautorizar-nos?? Mas ainda continuamos no reino de quem é senhor doutor é santo e adorado!”. E fazem o quê? Acusam a ANF de estar a servir os seus próprios interesses porque agora vai começar a produzir genéricos…

Ora o senhor João Cordeiro, presidente da ANF, ressentido com tal infame acusação (que está bem longe da verdade, porque a ANF é na realidade a versão bata branca do Robin dos Bosques), vem dizer – espante-se! – que os médicos favorecem certos laboratórios farmacêuticos e que será por isso que não substituem os medicamentos de marca pelos genéricos. O senhor da Ordem, pois claro está, fica fulo da vida perante a insinuação, de que os médicos, quais salvadores da pátria, não viajam para todo o mundo às custas das grandes companhias farmacêuticas onde vão brincar às conferências. Credo! Maldito daquele que pensa que os médicos não jantam em mesas fartas com delegados de propaganda médica, em troca sabe-se lá bem do quê… Enfim, só fala quem tem que se lhe diga. E já se sabe o que é que acontece quando se atira pedras para o telhado do vizinho…

E faço minhas, as suas palavras...

Quimicamente puros

2009-04-14

É um dos mitos mais generalizados o de que os jornalistas, como os anjos, não têm sexo, que é como quem diz vida pessoal, relações, interesses. Toda a gente sabe que não é assim, mas trata-se de uma convenção que os jornalistas permanentemente alimentam e sobre que o jornalismo, enquanto profissão, constrói de si mesmo, para si e para o mundo exterior, a ideia especular de um nicho quimicamente puro de "isenção" e "independência" pairando acima da sociedade. É nessa ideia que o jornalismo funda a legitimidade de que se reclama de vigilante e juiz da sociedade.

Quando um jornalista se mostra como sendo, afinal, humano ou tendo motivos e interesses, e se atreve - em vez de os ocultar, como manda o código de aparências corporativas - a falar sem exibir publicamente "distância" e "isenção", viola regras não escritas e desencadeia reacções automáticas de exclusão. O que aconteceu recentemente com uma jornalista do DN e o mal-estar que gerou por ter deixado "contaminar" a sua opinião (opinião, sublinhe-se) pela sua alegada vida pessoal é um bom exemplo da hipocrisia de que se alimenta o jornalismo.

Manuel António Pina, in JN

08 abril 2009

Velha Chica

Antigamente a velha Chica
vendia cola e gengibre
e lá pela tarde ela lavava
a roupa do patrão importante;

e nós os miúdos lá da escola
perguntávamos à vóvó Chica
qual era a razão daquela pobreza,
daquele nosso sofrimento.
Xé menino, não fala política,
não fala política, não fala política.

Mas a velha Chica embrulhada nos pensamentos,
ela sabia, mas não dizia a razão daquele sofrimento.
Xé menino, não fala política,
não fala política, não fala política.

E o tempo passou
e a velha Chica, só mais velha ficou.
Ela somente fez uma kubata com tecto de zinco, com tecto de zinco...!
Xé menino, não fala política, não fala política.

Mas quem vê agora o rosto daquela senhora,
daquela senhora,só vê as rugas do sofrimento, do sofrimento, do sofrimento!
Xé menino, não fala política,
não fala política, não fala política.

E ela agora só diz:“- Xé menino, quando eu morrer,
quero ver Angola viver em paz!
Xé menino, quando morrer, quero ver Angola e o Mundo em paz!”

Dulce Pontes e Waldemar Bastos

*Numa destas minhas complicadas noites de insónias, o radiozinho de cabeceira voltou a ser a minha companhia. Naquele crepúsculo entre o sono e a consciência, ouvi esta música e não pude deixar de voltar a tomar daqueles "sedativos naturais" que trazem um sono profundo.

18 março 2009

Nu ta encontra só na casa di morto…

Chega a esta conclusão e de lá não extrai nenhuma lição de vida para mudar? Optou por um caminho, mas enviesou-o totalmente. Resumiu-se a ele. E agora constata que só se vê os amigos – em último caso – num funeral.

Triste 'go.

19 fevereiro 2009

Estrela de Cinco Pontas

Uma estrela ao nascer
É expansão em luz e brilho e ser

Uma flor ao florir, é como o sol no teu olhar
Uma chama imensa, um fogo eterno
Incandescência em turbilhão

Sou eu quem canta, eu quem dança
O corrupio de um coração

Uma estrela ao descer, traz um desejo
Um sincero querer, neste céu a luzir
Mapa divino a decifrar

Como uma crença, um longo apelo
A permanência da paixão

Sou eu quem canta, eu quem dança
Mas é teu, meu coração

E este desejar, que não acaba não,
Louco procurar por algo que não seja em vão

Uma estrela sem querer,
Influi na vida no profundo ser,
Com o seu reluzir Astro distante a flamejar
Como uma dança, um fogo eterno,
A incandescência da paixão

Sou eu quem lança um longo apelo
Ao corrupio do coração

E este desejar que não acaba não, venho procurar,
O algo que não é em vão
Dazkarieh - Incógnita Alquimia

Desenvolvimento

1643 apartamentos, 630 villas, sport&leisure club com 300 suites, sala de conferências e de banquete para 150 pessoas, 60 townhouses, 22 campos de ténis, 7 restaurantes, 3 spa’s, piscina olímpica, piscina oceânica e um hotel cinco estrelas.

1643 barracas clandestinas, 630 tartarugas ensanguentadas, mercado com 300 tendas de artesanato produzido em massa, cidade para 150 meninos de rua, 60 pixinguinhas de 14 anos, 22 proxenetas, 7 riscos de cocaína, 3 reservas naturais destruídas, corrupção activa, corrupção passiva e um fontanário seco.

18 fevereiro 2009

Ela consome paciências
E devora corações
Ela desgasta amores
E encarcera vontades

Nesta ansiedade liberta quem a quer e prende, para sempre, esta sua solidão

12 fevereiro 2009

Que saudades do tempo em que tremavas saudade. Nestas linhas a tinta com que te escrevo são gotas do meu sangue.

Maria Lourdes Lima

Rir & Chorar


Ele fê-la rir numa manhã,
Fê-la rir na manhã a seguir.
Ele voltou a fazê-la rir noutra manhã.
Uma manhã fê-la chorar,
E ela não mais voltou a rir.

22 janeiro 2009

2008/2009 in the 80's








* Foi, sem dúvida, uma das melhores festas em que já estive! Por mim, pela música, pelo ambiente, pela alegria, pelos meus, por tudo. Grande Geração Spectrum!!!!

A neve e o Berço


* Por não ter palavras, por ser tão emagadoramente encantador, deixo aqui a minha benção do céu. (não sei quem é o autor das fotos, mas parabéns pela mestria no click ;))