16 abril 2009

E faço minhas, as suas palavras...

Quimicamente puros

2009-04-14

É um dos mitos mais generalizados o de que os jornalistas, como os anjos, não têm sexo, que é como quem diz vida pessoal, relações, interesses. Toda a gente sabe que não é assim, mas trata-se de uma convenção que os jornalistas permanentemente alimentam e sobre que o jornalismo, enquanto profissão, constrói de si mesmo, para si e para o mundo exterior, a ideia especular de um nicho quimicamente puro de "isenção" e "independência" pairando acima da sociedade. É nessa ideia que o jornalismo funda a legitimidade de que se reclama de vigilante e juiz da sociedade.

Quando um jornalista se mostra como sendo, afinal, humano ou tendo motivos e interesses, e se atreve - em vez de os ocultar, como manda o código de aparências corporativas - a falar sem exibir publicamente "distância" e "isenção", viola regras não escritas e desencadeia reacções automáticas de exclusão. O que aconteceu recentemente com uma jornalista do DN e o mal-estar que gerou por ter deixado "contaminar" a sua opinião (opinião, sublinhe-se) pela sua alegada vida pessoal é um bom exemplo da hipocrisia de que se alimenta o jornalismo.

Manuel António Pina, in JN

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