Sempre gostei de histórias – mesmo que ficção – que me atam um nó na garganta.
Benicio del Toro. Nunca me tinha apercebido antes como gosto deste actor. “Coisas que perdemos pelo caminho” fez-me encontrar esse apreço. Benicio (Jerry) é um viciado em heroína. Partilha a história com Halle Berry (Audrey), que está a passar pela pesada dor do luto. O marido, assassinado enquanto tentava salvar uma mulher que estava a ser brutalmente espancada pelo companheiro, cruza estas duas vi(d)as. No meio, os dois filhos que, à sua maneira, buscam também uma forma de sobreviver à morte.
A história equaciona-se da seguinte forma: negativo vezes negativo dá positivo. E, por isso, é um relato da caminhada para o abismo de duas pessoas – uma através do luto, outra através do vício – e que, exactamente por estarem a fazer esse percurso, se salvam. Os planos-detalhe (a forma de encaixe dos corpos para que Audrey consiga dormir, a carícia no lóbulo da orelha, os olhos raiados de dor, a aliança deslizando do dedo enquanto toma banho que comprova a morte) são as pontas que apertam este nó.
Questiona se realmente vale a pena chorar o que perdemos pelo caminho – não todas as coisas, mas se calhar aquelas que achamos importantes e, no fundo, são indiferentes, porque são, afinal, apenas coisas. E de um filme como este não poderia deixar de sair uma lição para pôr o telespectador a reflectir. “Accept the good” para Audrey e “One day at the time” para Jerry. Se bem que para ambos, e para todos nós, as duas máximas são válidas.
Accept the good… One day at the time!
Numa destas noites de insónia (que até têm sido relativamente raras) o computador (correspondeu à minha necessidade de ver um filme, já que ultimamente tem andado bastante selectivo e permite-me ver apenas o que lhe apetece, sem que eu ainda me tenha apercebido quais são os seus critérios) lá me deu o gosto de assistir a “Coisas que perdemos pelo caminho”. Estreado em 2007, o filme é da experiente realizadora dinamarquesa Susanne Bier.
01 dezembro 2008
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