29.11.2008. Pela primeira vez na minha vida não estive no Pinheiro, essa festa magnífica cujas particularidades apenas os vimaranenses entendem. Não estive, mas estive. Estive presente em todos os meus amigos, companheiros de farra, vinho do Porto e baquetadas…
Conto-vos, aqui, como foi o meu Pinheiro. (Lembrem-se que em Cabo Verde vivemos uma hora antes):
20:10 Snowra
Já me tinha deixado uma mensagem para eu ouvir aquele som esmagador e que, atravessando o espaço e o tempo, me leva à minha terra. Fechei os olhos e ouvi o toque do nosso Pinheiro, como durante a tarde que antecede o cortejo o ouço na minha casa, enquanto ultimo os preparativos para a grande noite.
Conta-me que queria beber um vinho do Porto e exactamente nesse momento, a minha irmã que estava com a minha caixa (aquela que tem a mesma pele desde que a comprei, com o asterisco que lhe desenhei quando tinha os meus 16 anos) aparece e lhe oferece um cálice.
Diz-me também que este ano ninguém foi ao Bolama comprar a nossa garrafita de vinho do Porto. É quando surge a voz da Susana dizendo que “O Bolama faliu!” e insistia “O Bolama faliu!”, “Oh Cat, o Bolama faliu!”.
E assim a Sofia foi passando o telefone por todos os presentes através dos quais estive neste Pinheiro. Silvi, Vânia, Cachada, Paulinha, Vila Verde, Drecas e até a Rute. Falei com todos, brindaram por mim e gritaram o meu nome. Senti-me tão bem, tão deles, tão nosso.
01:03 PD Tartaruga
Não fala. Não era preciso. Estou com ela também. Só me faz ouvir o toque de novo e outra vez…
02:58 Vila Verde
Paulinha e Silvi disputam o telemóvel para comunicar comigo. O Vila tenta mediar a situação. As botas cheias de lama e a chuva que, afinal, não caiu (Eu sabia!) são o entusiasmo da conversa. A Paulinha quer dizer-me algo… disse-o e sentiu-se mais feliz. E eu por ela. Falam, discutem, brincam e eu sinto-me numa dimensão etérea. No escuro da minha casa, a cabeça ensonada, estou lá mas estou cá.
04:36 Algum 93…
A Paulinha estava apostada em terminar com o saldo do telemóvel de qualquer vivente que se lhe cruzava pelo caminho… Contou-me a sua paragem no Milenário, o que lhe fez lembrar, a sua expiação e reencontro com o que é realmente importante. Palavras que não se dizem, que às vezes pensamos que não precisam de serem verbalizadas, mas que, no tempo certo, são como a ausência da chuva na noite do Pinheiro.
04:45 Careca
Paulinha continua a sua saga de esgotar créditos alheios em chamadas internacionais. “Amanhã pago-lhes, este ano não trouxe nada comigo, só dinheiro e chaves, e sabes bem porquê.” Sei, Paulinha, claro que sei! J Enquanto a Paulinha monopolizava os aparelhos de comunicação móvel, imagino a Silvi a tentar também mandar de sua justiça, usurpando, quando podia, o telemóvel. Nisto tudo só tive tempo de mandar um beijo ao Careca e Laipaz.
Os saldos esgotam-se e eu estou feliz. Estive lá. Quando conversarem sobre o Pinheiro eu também terei histórias para contar.
Para a posteridade deste Pinheiro, fica a minha caixa sem o seu autocolante 2008 e as minhas inexistentes fotos da loja do Palmeiras, onde todos, de nariz e dedo indicador espetado, procuram a sua cara/estado/grupo.
3 comentários:
Acho que na "viagem" que fizeste ao Pinheiro falta te contar certas situaçoes(não te lembras não é?;): o jantar no qual fomos neglicenciados (palavra que não conseguia dizer na altura)porque fomos os últimos a ser servidos e achavamos que não era justo fazerem isso a clientes tão assiduos como nós. Então tivemos que ir roubar comida a salas alheias...teve que ser. A bebida vinha a jarros pequenos,dois de cada vez?!!!não podia ser, a nossa gente tava cheia de sede, queriamos porque queriamos invocar o Deus Baco. Sofia encontrou se com ele rapidamente, até que teve de descansar de tanto conversar. As outras, ainda não contentadas andavam pela outra sala a fazerem brindes e a gritarem pelo Vitória: Enfim,tudo vale no pinheiro.Viva as cozinheiras, brinde ás cozinheiras. A partir dai entrou tudo em transe e fomos para o cortejo...aliás foi cada um para o seu cortejo. Eu e a Paulinha andamos juntas e fomos ter á Piedade. Vimos o Pinheiro a ser enterrado. Paulinha viu mesmo de perto, não queria perder nenhum momento, não se importou com a lama, com a escavadora, com nada, aquele momento era muito importante para estar preocupada com esses pormenores. Piedade outra vez, beber, conviver. Vila chegou e recomeça a loucura de gastar saldos de telemóvel.Cantava se algures. Eu cantei e dei mote para a musica... Eu sei eu sei és a linda portuguesa com quem eu quero casar..lalalalalalala. Careca, Rute chegam dos bares da oliveira e Laipaz também se reune connosco nos entretantos. Paulinha chega (supostamente ia embora)com um cachorro daqueles das rolotes. Eu dou uma trinca, claro.. mas não me satisfez. Paulinha despede se, pois tem mesmo que ir embora,no outro dia tinha jogo. Paulinha chega, outra vez, com outro cachorro...fixe. Decisao final: vamos ao julio comer caldo verde. E fomos.Pelo caminho gastou se mais saldos, careca cantou e tocou a sua propria morte.. morte ao careca o careca vai morrer. Chegamos, comemos e bebemos ate ficar dia. Eu ainda queira ir ao liceu, mas a minha resistência estava a falhar, resolvi,entao, levantar me e ir embora. Cheguei a casa, deitei me e adormeci com o toque do pinheiro,sim, porque ele fica dentro de nós ainda algumas horas.
E tu,afinal,tiveste cá. Não tinha duvidas. Beijo
Este ano toquei menos que o costume, mas ajudei a enterrar o Pinheiro. Ajudei! as minhas botas, as minhas calças, as minhas mãos, a lama são prova disso. E naquele momento Cat, naquele momento deixei a Silvi embalar-me com o rufo na caixa dela e ouvi as baquetadas uma por uma para as sentir, deixar o som entrar-me pelos ouvidos e a percorrer todo o corpo, saindo pelos poros numa qualquer forma maior que resultou no abraço que demos as duas ao Pinheiro. Uma vez, embirramos que iamos abraçar o Pinheiro? Lembraste? Este ano também foste e o que é giro é foste através de todos nós, de cada bocadinho da noite, desde os delirios da Sofia, às gargalhadas da Susana e foste comigo e com a Silvi, por fim, quando todos os pormenores eram importantes porque todos os sentidos estavam em alerta. Lembro-me de pensar numa frase: "Este Pinheiro tem qualquer coisa de prolongamento entre a terra e a vida". Seria uma frase sem nada de concreto, dita num momento de alucinação entre duas latas de Super que fui com a Silvi comprar ao Milenário, mas se a analisarmos bem, agora, faz sentido ou pelos menos faz o sentido que quisermos dar. o Pinheiro que está na terra tem vida. A terra onde vivemos tem vida com o Pinheiro. E nunca se quis tanto prolongar a terra e a vida como neste Pinheiro. Acredita! Porque é assim e passa tempo e vem outro tempo e até parece que já passou, mas é assim e nós sabemos. Deposito em ti estas palavras, como depositei os desabafos da noite. Souberam tão bem. Agora, a uma certa distância, ainda tenho mais noção do quanto soube bem gastar saldos a torto e a direito. Sabes que quando cheguei ao CAR o Cachada me perguntou se tinha levado máquina ou telemovel e lhe respondi com o sorriso maior do mundo que não. Ele ficou orgulhoso de mim! Tive de recorrer a saldos alheios e sendo que as principais vitimas foram o Careca e o Vila Verde já decidi que não lhes pago. Aliás eles sabem que está pago. O que te disse Cat não foi só sentido porque tinha uns Super's a fervilhar no cerebro, foi sobretudo pelo nó no coração que não desamarrou desde o dia em que te deixei às 5 da manhã na Rua 5 de Julho, ensonada, para apanhar o taxi pro aeroporto sem nos abraçarmos com a força que colocamos nos olhos e nas mãos. E sabe-se lá porquê. Sabe-se lá porque é que as pessoas não se abraçam mais. Neste Pinheiro, como no ano passado e como outros em outros anos, fiz o cortejo com a Silvi. Não tivemos de falar muito, mas tivemos de parar no jardim da Alameda. Acho que nem raciocinamos. As coisas foram atiradas para cima da caixa e a noite foi dando sinais de querer elevar-se em qualquer coisa que o corpo desconhece o sentido. Tivemos as duas, eu muito nela porque me apetecia estar assim, simplesmente como ela é, e a Silvi muito comigo porque sabia que tinha de estar comigo naquela noite e na vida e na terra até encontrarmos o momento exacto de prolongar o Pinheiro. Enfim... Estiveste cá! E eu também estive ai, nos degrais das escadas onde há mais rede. Aquelas escadas do CV que eu conheço e onde me deixaste prolongar um bocadinho nesta niote do Pinheiro.
paulinha
"Outra vez não" mal acordei. A amnésia tomou conta de mim bem cedo, o costume que julguei conseguir combater. O segundo pensamento claro que se entrecruza com o primeiro:"Como terá sido a minha figura nos Palheiros?" e aquela sensação angustiante de "o meu tio, ai o meu tio, eu vi o meu tio". Mas depois tento fazer um exercício de combate aos remorsos e resultou num "Que se há-de fazer?" apesar do relatório dos outros fazer-me ter noção das coisas que perdi ao longo do caminho, o percurso do Pinheiro Magno. Mas é mesmo assim, esta noite tem um efeito completamente embriagante. Faz-me sentir tão priveligiada porque é nesta noite que faço o balanço do ano. Revejo as tragédias somadas e solto-as e ao mesmo tempo estou a ver. Olho e vejo a Paula Daniela e o Vinho do Porto que veio das mãos dela. O Bolama se tudo correr bem permanece firme e hirto, pois recuso-me a passar outro Pinheiro sem essa tradição.
Olho e vejo as caras repetidas ao longo dos anos, um sorriso aqui outro acolá debaixo dos Arcos. E o momento em que os ausentes se revelam sempre presentes acontece...se ainda haviam dúvidas que não é a distância que determina o afastamento, agora está completamente provada essa grande verdade. Ás vezes até se tornam mais presentes e tu estiveste mais neste Pinheiro do que qualquer um de nós.
Gostei da ideia de abraçar o Pinheiro e estou com saudades dele, já não o vejo há alguns anos, não o sinto até a aurora, não o relembro no cheiro. As melhores memórias são as dos cheiros...
O meu Pinheiro foi um instante completamente dionisíaco, um ápice que vou prolongar no próximo ano porque quero olhar para trás, ir embora e saber que vou embora, que a noite acabou e o zumbido dos ouvidos ser a certeza que tudo aconteceu...
A vida é curta e maravilhosa...e o Pinheiro também.
Sofia
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