27 outubro 2009

Amor do século XXI

"Ontem falaram de uns senhores na televisão que têm assim tipo uma imobiliária de namoros. Uma pessoa vai lá, paga 3 mil euros e fica com um namorado. E está provado que estas coisas têm tudo a ver com aquilo das hormonas, que no homem é a "testa-não-sei-quê" e na mulher é o "estró"... oh não sei dizer a palavra. Mas pronto o cérebro dos dois é diferente. Vês? Isto não é nada como antigamente."

27/10/09. Senhora acima dos seus 65 anos, sobre as agências matrimoniais e as reacções químicas provocadas pelo amor. Durante um pequeno-almoço, em Guimarães.

22 outubro 2009

Pilates I


Nós nascemos, aprendemos a respirar, a andar, a sentar e a comer. Uns anos depois, descobrimos que, afinal, aquilo que aprendemos estava tudo errado. E, pronto, para vivermos mais uns anos, lá temos que voltar a aprender a respirar, a andar, a sentar e a comer. Crescemos a descobrir como é que a vida se vai complicando – em proporcionalidade directa com os anos creditados no Bilhete de Identidade – e a luta diária reside em simplificar e desconstruir tudo… como se fossemos crianças.


12 outubro 2009

Alterações Climáticas

"Olhe que na semana passada vendíamos galochas e esta semana já nos perguntaram se ainda tínhamos chinelos de dedo."

Funcionário de uma sapataria na Rua Gil Vicente. Aos 12.10.2009, em Guimarães, 21 dias depois de ter começado o Outono. Céu limpo, 27ºC.

07 outubro 2009

Hipocrisia

Revolta-me aquelas pessoas que andam por aí a propalar a paz, o amor, o respeito pelo próximo, a tolerância para com quem deles discorda, a harmonia do universo e que depois manipulam os outros consoante os seus humores, que jogam com os sentimentos de quem as ama, qual consola que tanto criticam. São cruéis, alimentam depressões e padecem do pior tipo de hipocrisia: a dissimulada por entre sorrisos e conversas bonitas de energia positiva. Melhor os cabrões às claras, que são menos maquiavélicos e, ao menos desses, sabe-se o que esperar.

*Foto in soprandoventos.blogspot.com

03 outubro 2009

A caminho de casa

(22h06) O ex-combatente em Angola que me queria conquistar com uma conversa viciosa e um cheiro fétido a álcool que lhe correu solto durante a vida. Tento ignora-lhe a história e os avanços palavrosos. Mas não consigo. Levanto-me e mudo-me para o outro lado da praça.

(23h01) Preciso de me aquecer. Preciso de chocolate. E preciso de ir à casa-de-banho. Vou até ao 120, um dos bares da praça, dessas tantas vezes repetida por esse país fora. O dono, ao ver que eu podia ser um cliente em potência pelas três marcas de chocolates diferentes que comprei, tentou persuadir-me a comprar uma barra alimentícia, que – milagre! – substitui uma refeição completa. “Veja, menina, tem vitaminas, proteínas, tudo que precisa para almoçar.” “Ora muito bem”, respondi eu, “E tem vendido?”. “Oh, menina, trouxe isto ontem de Lisboa e olhe, já está quase no fim!”. “Que bom! Posso usar a casa-de-banho, por favor?”.

(00h53) O casal que seguia o mesmo caminho que eu, foi o meu “segurança” durante a hora e vinte que durou a minha espera na rodoviária, no centro de uma avenida deserta. Ela, toda vestida de ganga da mesma cor: uma saia até ao joelho e uma jaqueta cintada. Óculos de massa castanhos, cabelo curto, fino e preto, argolas médias de ouro, sandálias à missionária. Não anda com a casa atrás dela, qual caracol: uma carteira, uma lancheira e um mapa das estradas de Portugal espetadito de um bolso. A bagagem parece ter sido arrumada só com o necessário: sem o esforço titânico do “ora, enfia isto neste espacinho” e a hercúlea prova final de apertar o fecho. O homem cheira a cerveja e parece um tipo bem disposto. Tem este ar arrumadinho graças aos cuidados de carinho dela. Usa sapatos de vela castanhos, calças de ganga, sweat-shirt cinzenta. Apesar de não ser gordo, tem um duplo queixo bem decalcado.

Olhando para eles, imagino que ela tenha sido uma freira e ele, com certeza, seria o padeiro que distribuía o pão no convento. Um dia apaixonaram-se. E o resto é o que se vê. Hoje trocam olhares cúmplices e micro gestos de ternura, enquanto esperam pela camioneta das duas da manhã.

Catarina dixit.

Amo Cabo Verde. Eu VIVI Cabo Verde (Sim! VIVI com maiúsculas, com tudo de óptimo e péssimo que isso implica) e ainda o VIVO de longe. Por isso, tenho o pleno direito de emitir todas as opiniões que eu achar pertinentes ou - simplesmente - mandar os bitaites que me apetecer!

Se não gostam, nhos bai tchupa limon!

02 outubro 2009

Os extra-terrestres humanos

Foi com muita reticência que assisti a este filme. O nome – District 9 - e o ‘trailer’, que anunciava um filme com efeitos especiais vários e avançadíssimos (um deleite para os apreciadores do género) e ‘aliens’ verdes a espirrar líquidos pretos, em nada me apelavam. Ok, o som, a super-produção que está por trás e as cabecinhas todas que pensaram o filme merecem todo o meu respeito e valor, mas ele não é, simplesmente, “a minha praia”.

Mas, enfim, convidaram-me para ir ao cinema e eu fui. Afinal, também já me tinham lançado o ‘bichinho’ sobre o filme quando alguns amigos meus comentaram comigo toda a estranheza que sentiram ao vê-lo, sem saberem lá muito bem se gostaram ou não. Então decidi tirar dúvidas.

A verdade é que me abstraí totalmente da parte da ficção científica e dos efeitos especiais (que em alguns filmes, confesso, chegam a roçar, em mim, a irritação) e vi ali uma história com um cariz social muito forte. É que os ‘aliens’ do District 9 são bastante humanos. Mais humanos que os próprios humanos.

No filme, a raça humana faz aquilo que a mais caracteriza ao longo dos séculos: maltratar aquilo que para ela é estranho. O que está aqui representado é o ímpeto destrutivo do ser humano. Foi a primeira vez na minha vida que vi a eterna dicotomia ficcional humano vs. ‘aliens’ trocada: os humanos eram os vilões e os ‘aliens’ os bons da fita (vá, mais ou menos bonzinhos…). Aqueles seres grandes, verdes e viscosos - apesar do aspecto repulsivo que tinham - eram quem suscitava no espectador empatia, eram a “facção” do filme para quem eu torcia que tudo desse certo!

De uma forma completamente surrealista (mas não creio que na eventualidade de acontecer um fenómeno destes, os acontecimento relatados no filme fossam irreais), os ‘aliens’ aterram na cidade de Joanesburgo, na África do Sul, e são alvo de um ‘apharteid’. Tal como aconteceu durante décadas naquele país, assiste-se a uma separação de raças, mas desta feita entre humanos e ‘aliens’: há os parques infantis para crianças e os ‘baby aliens’, há as casas de banho para humanos e ‘aliens’ e por aí adiante…

Outra coisa que dá grande força ao filme é o estilo documentário com que foi gravado, o que faz o espectador abstrair-se ainda mais dos tais efeitos especiais megalómanos, da enorme nave mãe cinzenta e taciturna, do sangue a esguichar e cabeças a explodir… Os ‘ghettos’ surreais dos ‘aliens’ são semelhantes aos ‘ghettos’ que hoje vemos pelos subúrbios de uma qualquer grande metrópole.

E depois do District 9 – uma versão alienígena dos campos de refugiados do Darfur, com a mesma violência, incúria das autoridades internacionais e corporativas e flagelos sociais como o tráfico de armas e mulheres -, surge o District 10. A fictícia MNU (cujos oficiais andam em blindados brancos e usam bonés azuis bebé, bem ao estilo de uma bem realista mega organização internacional) constrói o 10, na esperança de controlar a “praga”. De 1,8 milhões de ‘aliens’ que habitam no district 9, no 10, eles já são 2,5 milhões… “So much” para o controlo da propagação da espécie.
Saí do cinema e vim a matutar no filme pelo caminho. Hoje, quando acordei, foi uma das coisas em que pensei. E neste momento motiva-me a escrever sobre ele para o blog. Poucos filmes têm este efeito em mim. Por isso, valeu a pena e “toma lá p’ra aprenderes, Ana Catarina”, a ver se pr’a próxima não negas à partida um filme que não conheces!

Estranho

"People are strange

When you're a stranger

People seem ugly

When you're alone"

Jim Morrison

* Andava aqui a pensar em algo que descrevesse estes meus últimos dias e esta estrofe foi a única coisa que me ocorreu.

01 outubro 2009

Saudades da minha menineza

Hoje tenho saudades dos meus meninos e meninas, dos quais acompanhei a gravidez e o crescimento de perto (mesmo às vezes estando longe). Tenho saudades deles porque são a minha esperança num mundo melhor e mais bonito. Porque desde que soube das suas existências, desde que eram apenas um desejo das suas mamis ou quando provocaram a surpresa da vida delas, eu estava lá. E sonhei com eles e sonhei por eles.

Rodrigo & Ritinha, a minha Luna, Diego, Bá, Santiago e Francisquinho, hoje, tudo o que queria era ver o vosso sorriso!